A VIDA É O TEMPO TODO: LIÇÃO E APRENDIZADO

10/03/2014 06:51

Esta semana, no Momento de Luz, Gregório compartilha conosco de mais um aprendizado. Conta-nos que se sentia responsável por um amigo e, preocupado com seu bem estar, acreditava que sabia o que seria melhor para vida dele.

Já passaram por uma situação parecida? Conseguem avaliar se foi o melhor a fazer? Fariam diferente hoje? Envolvidos por estas questões, "ouçamos" o que Gregório tem a nos dizer.

Boa reflexão!

Andréa

 

 

A VIDA É O TEMPO TODO: LIÇÃO E APRENDIZADO

 

Vê aquelas duas garotinhas brincando? Tudo começa ali. No instante que dialogamos com o mundo, estamos trazendo à tona o que é necessário ao nosso aprendizado. Nada deve passar despercebido por nós.

Não compreendi!

Explicarei melhor.

A vida é o tempo todo: lição e aprendizado. Até mesmo nas mais simples das atividades, demonstramos ao mundo o que somos, como nos relacionamos e o que viemos aprimorar.

Nas pequenas brincadeiras de criança, na forma de falar, sorrir, expressar-se, podemos identificar o que aquele espírito veio buscar. E como tem se comportado diante das adversidades que tem encontrado para realizar o que veio fazer.

São pequenos gestos e ações que possibilitam o novo fazer. Em cada minuto da vida, estamos modificando o nosso destino, o ser do futuro.

Construído por nós diariamente.

Mas não basta só olhar. É preciso ver. É preciso sentir. É preciso fazer. Uma compreensão que vai além dos sentidos. Que precisa ser metabolizada, vivida.

Nada em nós é desperdiçado. Tudo é somado e contabilizado. Cada pequeno gesto, ação, sentir, pensar. Todos farão parte da construção do ser que se propôs a se renovar.

Quando digo contabilizado, não quero dizer que o Pai, a nos esperar, conta cada um de nossos passos, acrescentando juros, reduzindo impostos. Com isso, simbolicamente, tento expor que somos inteiros e não pela metade.

Que não somos somente bom ou ruim, belo ou feio, preparado ou iniciante, somos inteiros, complexos. Que o que estamos a fazer, pensar ou sentir diz de nós, mas não somos nós por inteiro.

Tem coisas em nós que ainda não foram construídas. Que ainda serão realizadas. Parte de nós é ainda semente que não eclodiu. Assim como, há partes de nós que podem ser podadas e deixar de existir.

Deste modo, não é possível reduzir o homem a um único conceito. É preciso acreditar que na escrita da sua própria história, ele está a esculpir-se da melhor forma que pode naquele momento.

Com as informações culturais que recebeu, com os valores morais que viveu, com os sentimentos que sentiu. Como foi educado, ensinado, como foi tratado. Mas também com o que trouxe de outas existência: os velhos hábitos de viver e sentir a vida.

Diante do revelado, qual o meu papel? Devemos nos perguntar. Não só perante nós mesmos, mas também, perante o outro. Pois, se já não é fácil, o desenrolar da nossa própria história, complica-se quando coparticipamos do desenrolar de muitas outras histórias: amigos, colegas, familiares.

Ficar atento é um grande primeiro passo. "Vigiai", nos disse Jesus.

Não só os perigos de cair, mas os muitos caminhos de levantar. Às vezes pequenos, sutis, mas grandiosos em possibilidade de crescimento.

Porque se caminha dando um passo após o outro. E se corre, quando as pernas, firmes, já conseguem sustentar os passos rápidos. Porém, é sabido que entre corridas é necessário andar, para a conquista de um novo folego.

E antes desta, acrescentou, como um complemento: "Orai". Pede forças, e receberá. Pede auxílio e obterá. Pede conforto para os enfrentamentos, luz para guia-los pela jornada, coragem para seguir, e será atendido.

O pai confia em nós para fazermos a nossa própria construção. Mas, amoroso, não nos deixa sozinhos. Mantem-se ao nosso lado, auxiliando-nos no que for preciso.

Voltei a olhar as crianças. Continuavam a brincar. Sábias, viam naquele fazer tudo que podiam fazer no mundo. Já nós, adultos, ingênuos, considerávamos um simples agir, uma perda de tempo.

Quantas vezes meu pai repreendeu-me por estar a brincar. Dizia: "Vai buscar algo valioso para fazer". Referia-se a outros afazeres domésticos ou da loja que possuía.

Tantas vezes fiz o mesmo com meus filhos, desprezando atos simples que se propunham a fazer, considerando como perda de tempo. E os via “amoados” a realizar as tarefas que eu achava importantes, sem nada aproveitar da sua realização.

Como nos sentimos grandes e sábios diante dos outros, principalmente, dos pequenos, sejam em idade ou posição sociocultural ou financeira.

Acreditamos saber o que é melhor para cada um deles e os empurramos para aquilo que, muitas vezes, não precisam.

Iniciamos esta conversa, eu e Claus, por causa de Felipe. Ele passava o dia a correr pelo arredores. Dizia: "Estou a fazer exercícios e conhecer o mundo". E eu pensava como poderia conhecer o mundo se só corria nos mesmos lugares. Para mim, ver a mesma coisa pode gerar a possibilidade de ver de formas diferentes, mas correndo? O que seria possível ver?

Achei que era minha responsabilidade auxilia-lo, pois ajudei a resgatá-lo tempos atrás. Sentia-me responsável pelo seu desenvolvimento. E como não conseguia persuadi-lo. Chamei Claus.

Queria a sua orientação.

E recebi cada palavra supracitada. Envergonhei-me. Lembro de Claus, que deixa-me escolher os próprios caminhos. Nunca dizia-me o que fazer.

Apenas auxiliava-me a pensar e deixava-me decidir.

Lembram do tempo que passei de cama a me lamentar? Estava ao meu lado a me esperar. Jamais gritou-me, arrastando-me da cama. Perguntei a ele, certa vez, porque não havia me impedido de tão boba escolha.

Respondeu-me que se o fizesse, eu nada teria aprendido. Pois, aquela escolha era a que eu acreditava precisar naquele momento. Foi a que escolhi diante de muitas outras possibilidades e completou: "Quem era eu para saber o que realmente você precisava. Só o ser é capaz de saber".

Confesso que discordei. Onde já se viu um pequeno iniciante como eu saber algo sobre si mesmo. Ele somente sorriu na época. Disse que um dia eu compreenderia. Acho que o dia chegou.

Depois desta conversa olhei-me diferente e aos outros também.

Compreendi que meu papel não era deduzir e dizer o que o outro poderia fazer, mas que poderia estar ao seu lado auxiliando a pensar, a refletir.

Pensei também em mim. Nas minhas atitudes perante mim mesmo e perante a minha vida. Observei-me mais. Tentei ser mais cauteloso nas minhas decisões e, depois, nas minhas avaliações. Costumava derrotar a mim mesmo. Enraivado, não admitia ter errado novamente, ter tomado o caminho que tomei. Atirava-me aos leões.

Hoje, mais sereno, procuro apropriar-me de mim mesmo. Conhecer-me ajudou-me a tomar melhores decisões e a respeitar e compreender, depois do vivido, que aquele foi o melhor que podia fazer naquele momento.

Deste modo, reconheço meu humano. Minhas falhas e dificuldades. O que devo reconstruir. E habilito-me a fazê-lo.

Abraço afetuoso!

Gregório

09.03.14

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