APRENDER A VÊ-LO E A ESCUTÁ-LO

01/10/2013 07:35

Esta semana, no Momento de Luz, Gregório retoma a atividade de ver através do olhar do outro e compartilha conosco, as lições aprendidas a partir da sua realização.

Ouvir é o mesmo que escutar? Eu tenho escutado a mim mesmo e ao outro? É possível conviver bem com meu semelhante sem verdadeiramente vê-lo e escutá-lo? Estas perguntas unem-se as outras duas feitas no dia 16.09, em texto postado neste Blog e nos convidam a reflexão.

Que possamos, no decorrer desta semana, dedicar alguns minutos a elas e, juntamente com Gregório, poder refleti, coletivamente, sobre as mesmas na próxima semana.

Boa leitura e reflexão!

Andréa

 

APRENDER A VÊ-LO E A ESCUTÁ-LO

 

Assustou-me as descrições. Como poderiam saber de pontos tão profundos de mim? Teria sido eu o responsável ou a sensibilidade do outro poderia enxergar além de mim?

Foi assim que, após a última descrição, retirei a venda e a entreguei. Sentei-me ao chão e fechei-me em mim mesmo. Não por muito tempo, pois fui convocado a retornar ao jogo e trocar de lugar.

Desta vez, a menina dos cachos posicionou-se no centro e seguindo os meus passos, solicitou a percepção de si. Agora era a minha vez. Não pensei em vingança, mas em estudo e compreensão.

Primeiramente, fechei os olhos, respirei fundo, limpando a mente dos conceitos pré-concebidos e, ao me sentir aberto ao outro, abri, novamente, os olhos.

Interessante como tudo parecia novo. Olhei-a com ternura e verdade. E diante da delicadeza de seus gestos, encantei-me. E fui tomado por um profundo desejo de conhecê-la. Percorri os cabelos, rosto, corpo, mas não era o suficiente. Deseja conhecer sua alma.

E estranhamente vi cores ao redor de sua figura humana. Luzes que dançavam e falavam-me sobre o doce ser que me acolheu.  Ouvi poesia e a declamei.

- De sua alma bela recebi doces gestos de solidariedade. Como poderei descrevê-la sem revelar a cores, luzes e músicas que dançam ao seu redor? És uma linda borboleta, que ao som do vento baila, transmitindo cor, beleza e luz.

De seu rosto brotou um iluminado sorriso e ao, novamente, observá-la percebi a ampliação das cores e luzes, parecia resplandecer. Quem será este formoso espírito? Qual será sua história? O que pensa? Deseja? Busca?

Ao fim da rodada de descrições. A doce menina abandonou o que a mantinha sem enxergar, abriu os braços e convidou os companheiros para um abraço coletivo.

Deixei-me ficar, sem coragem de aproximar-me. Ela vendo-me longe, abriu caminho entre os muitos braços que a acarinhavam e chamou-me pelo nome. Constrangido, enchi-me de coragem e fui.

Que doce sensação. A de entregar-se ao outro sem constrangimentos. Numa mistura de conforto e desconforto, sorriso e choro, desta vez, entreguei-me a emoção e me deixei ficar.

Em alguns minutos recuperei amor externo de alguns anos e alimentei minha fonte interna, acreditando que também havia alimentado as externas.

O primeiro jovem que me recebera, convidou-nos a sentar e refletir. Organizamo-nos em círculo, um ao lado do outro, mão unidas, corações voltados para o alto, oramos.

Não foi preciso nada dizer. Cada um foi se envolvendo no clima de oração e, um a um, contribuindo com sua emoção, que em formas de palavras foram construindo uma prece coletiva.

Foi mais ou menos assim:

Unidos aqui, queremos agradecer.

Agradecer pela beleza que nos rodeia na natureza, no irmão, em nós mesmos.

E que nos desperta para a bondade e misericórdia do Pai.

Embora às vezes cegos, não podemos vê-la.

Sabemos que está lá.

E que nos chega através do olhar do outro.

Olhar que nem sempre nos mostra só beleza.

Mas que nos desperta para o que precisamos ver.

Para que, a partir deste olhar, possamos perceber a necessidade de transformar.

E encorajados possamos fazê-lo.

E é por isso, que hoje, aqui, reunidos saímos mais fortalecidos.

Cientes do que somos e do que queremos ser.

Para nós, para o outro, para vida que estamos construindo.

Portanto, só nos resta agradecer e seguir.

Não resisti às lágrimas que teimavam cair e as permiti lavar minha alma que, agora desperta, deseja o novo. O novo que achava já fazer parte de mim. E que queria ver envelhecer.

Ledo engano, acreditar num fluxo unilateral e fixo da vida. Pois ele é contínuo, mas flexível. Segue caminhos em várias direções, podendo ir, vir, retornar.

Em um tempo nosso, respeitando nosso ser, nossos planos, nossas escolhas, nossas dificuldades, podendo começar e recomeçar. Um velho sempre novo que se renova à medida que renovamos nossas ideias, nosso conhecimento, nossos sentimentos.

Durante a reflexão, pus-me a ouvir. Experimentei calar e pude comtemplar lindos relatos.

- Hoje acordei sentindo-me tão pequenina. Pensei em desistir, pois achei que nada havia mudado em mim. Após tão bonitas descrições de mim, senti-me grande o suficiente para continuar. Percebi que estava cega, que preciso tirar as vendas dos olhos e mantê-los abertos juntos com os braços e o coração para enxergar, sentir, aprender. Sinto-me capaz de seguir. Falou a doce menina de cachos.

- Já eu percebi que tenho dado pouco valor ao que me rodeia. Tenho concentrado minha atenção para o crescer, sem perceber que é impossível conquistá-lo sozinho, sem fazer parte do todo.

- Preciso sorrir mais e ver a beleza que está ao meu redor. Aprisionada em meus problemas e medos, passei grande parte da vida trancada dentro de mim mesma, a queixar-me da falta de oportunidades. Como elas podem chegar, sem que eu as esteja esperando?

- Pude ver que nem sempre existe uma só verdade. Que é preciso ouvir o outro e respeitar sua percepção da vida. Assim conseguirei também compreender seu jeito de agir e o meu jeito. Diferente ou igual, fazem parte de duas pessoas. Não posso mais negar isso. E preciso deste conhecer para conviver melhor com meu semelhante.

Ao chegar a minha vez. Iniciei minha fala, pedindo desculpa pela minha intromissão descuidada. Minha precipitação desconcentrou o grupo e poderia ter comprometido o desenrolar da atividade.

Em seguida, agradeci a acolhida e a permissão para participar e expliquei o quanto foi importante para mim. E com riqueza de detalhes descrevi meus sentimentos e aprendizado.

- Considerava-me um bom ouvinte, por percorrer os lugares a buscar estórias. Sentado diante do outro a ouvi-lo, anotava palavra por palavra. Como pude enganar a mim mesmo e ao outro por tanto tempo?

- Ouvia e pensava, e elucubrava, e escrevia, e questionava, e achava que escutava. Escutar é fechar o ramo de sua mente que cabe a você e deixá-la livre de suas ideias pré-concebidas, para deixá-la livre para ouvir o outro.

- Centrar-se nele. Permitir que ele diga o que sente e pensa, sem a interferência dos seus sentimentos e pensamentos. Deixar-se envolver pela fala do outro e sentir, e pensar, sobre o que ele está compartilhando com você.

- Respeitar sua fala. Respeitar seus pensamentos. Respeitar seus sentimentos.  Vê-lo e escutá-lo. Respeitá-lo e compreendê-lo, só é possível, quando aquieto o meu ser, para dar a vez ao outro ser.

E finalizei agradecendo a lição recebida naquele dia.

Voltaremos à reflexão na próxima semana. Aproveito para questioná-los, respeitosamente, quanto à reflexão sobre os questionamentos propostos? Proponho que retomemos a eles no decorrer desta semana.

Até breve,

Gregório

30.09.13 

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