APRENDER A VÊ-LO E A ESCUTÁ-LO
Esta semana, no Momento de Luz, Gregório retoma a atividade de ver através do olhar do outro e compartilha conosco, as lições aprendidas a partir da sua realização.
Ouvir é o mesmo que escutar? Eu tenho escutado a mim mesmo e ao outro? É possível conviver bem com meu semelhante sem verdadeiramente vê-lo e escutá-lo? Estas perguntas unem-se as outras duas feitas no dia 16.09, em texto postado neste Blog e nos convidam a reflexão.
Que possamos, no decorrer desta semana, dedicar alguns minutos a elas e, juntamente com Gregório, poder refleti, coletivamente, sobre as mesmas na próxima semana.
Boa leitura e reflexão!
Andréa
APRENDER A VÊ-LO E A ESCUTÁ-LO
Assustou-me as descrições. Como poderiam saber de pontos tão profundos de mim? Teria sido eu o responsável ou a sensibilidade do outro poderia enxergar além de mim?
Foi assim que, após a última descrição, retirei a venda e a entreguei. Sentei-me ao chão e fechei-me em mim mesmo. Não por muito tempo, pois fui convocado a retornar ao jogo e trocar de lugar.
Desta vez, a menina dos cachos posicionou-se no centro e seguindo os meus passos, solicitou a percepção de si. Agora era a minha vez. Não pensei em vingança, mas em estudo e compreensão.
Primeiramente, fechei os olhos, respirei fundo, limpando a mente dos conceitos pré-concebidos e, ao me sentir aberto ao outro, abri, novamente, os olhos.
Interessante como tudo parecia novo. Olhei-a com ternura e verdade. E diante da delicadeza de seus gestos, encantei-me. E fui tomado por um profundo desejo de conhecê-la. Percorri os cabelos, rosto, corpo, mas não era o suficiente. Deseja conhecer sua alma.
E estranhamente vi cores ao redor de sua figura humana. Luzes que dançavam e falavam-me sobre o doce ser que me acolheu. Ouvi poesia e a declamei.
- De sua alma bela recebi doces gestos de solidariedade. Como poderei descrevê-la sem revelar a cores, luzes e músicas que dançam ao seu redor? És uma linda borboleta, que ao som do vento baila, transmitindo cor, beleza e luz.
De seu rosto brotou um iluminado sorriso e ao, novamente, observá-la percebi a ampliação das cores e luzes, parecia resplandecer. Quem será este formoso espírito? Qual será sua história? O que pensa? Deseja? Busca?
Ao fim da rodada de descrições. A doce menina abandonou o que a mantinha sem enxergar, abriu os braços e convidou os companheiros para um abraço coletivo.
Deixei-me ficar, sem coragem de aproximar-me. Ela vendo-me longe, abriu caminho entre os muitos braços que a acarinhavam e chamou-me pelo nome. Constrangido, enchi-me de coragem e fui.
Que doce sensação. A de entregar-se ao outro sem constrangimentos. Numa mistura de conforto e desconforto, sorriso e choro, desta vez, entreguei-me a emoção e me deixei ficar.
Em alguns minutos recuperei amor externo de alguns anos e alimentei minha fonte interna, acreditando que também havia alimentado as externas.
O primeiro jovem que me recebera, convidou-nos a sentar e refletir. Organizamo-nos em círculo, um ao lado do outro, mão unidas, corações voltados para o alto, oramos.
Não foi preciso nada dizer. Cada um foi se envolvendo no clima de oração e, um a um, contribuindo com sua emoção, que em formas de palavras foram construindo uma prece coletiva.
Foi mais ou menos assim:
Unidos aqui, queremos agradecer.
Agradecer pela beleza que nos rodeia na natureza, no irmão, em nós mesmos.
E que nos desperta para a bondade e misericórdia do Pai.
Embora às vezes cegos, não podemos vê-la.
Sabemos que está lá.
E que nos chega através do olhar do outro.
Olhar que nem sempre nos mostra só beleza.
Mas que nos desperta para o que precisamos ver.
Para que, a partir deste olhar, possamos perceber a necessidade de transformar.
E encorajados possamos fazê-lo.
E é por isso, que hoje, aqui, reunidos saímos mais fortalecidos.
Cientes do que somos e do que queremos ser.
Para nós, para o outro, para vida que estamos construindo.
Portanto, só nos resta agradecer e seguir.
Não resisti às lágrimas que teimavam cair e as permiti lavar minha alma que, agora desperta, deseja o novo. O novo que achava já fazer parte de mim. E que queria ver envelhecer.
Ledo engano, acreditar num fluxo unilateral e fixo da vida. Pois ele é contínuo, mas flexível. Segue caminhos em várias direções, podendo ir, vir, retornar.
Em um tempo nosso, respeitando nosso ser, nossos planos, nossas escolhas, nossas dificuldades, podendo começar e recomeçar. Um velho sempre novo que se renova à medida que renovamos nossas ideias, nosso conhecimento, nossos sentimentos.
Durante a reflexão, pus-me a ouvir. Experimentei calar e pude comtemplar lindos relatos.
- Hoje acordei sentindo-me tão pequenina. Pensei em desistir, pois achei que nada havia mudado em mim. Após tão bonitas descrições de mim, senti-me grande o suficiente para continuar. Percebi que estava cega, que preciso tirar as vendas dos olhos e mantê-los abertos juntos com os braços e o coração para enxergar, sentir, aprender. Sinto-me capaz de seguir. Falou a doce menina de cachos.
- Já eu percebi que tenho dado pouco valor ao que me rodeia. Tenho concentrado minha atenção para o crescer, sem perceber que é impossível conquistá-lo sozinho, sem fazer parte do todo.
- Preciso sorrir mais e ver a beleza que está ao meu redor. Aprisionada em meus problemas e medos, passei grande parte da vida trancada dentro de mim mesma, a queixar-me da falta de oportunidades. Como elas podem chegar, sem que eu as esteja esperando?
- Pude ver que nem sempre existe uma só verdade. Que é preciso ouvir o outro e respeitar sua percepção da vida. Assim conseguirei também compreender seu jeito de agir e o meu jeito. Diferente ou igual, fazem parte de duas pessoas. Não posso mais negar isso. E preciso deste conhecer para conviver melhor com meu semelhante.
Ao chegar a minha vez. Iniciei minha fala, pedindo desculpa pela minha intromissão descuidada. Minha precipitação desconcentrou o grupo e poderia ter comprometido o desenrolar da atividade.
Em seguida, agradeci a acolhida e a permissão para participar e expliquei o quanto foi importante para mim. E com riqueza de detalhes descrevi meus sentimentos e aprendizado.
- Considerava-me um bom ouvinte, por percorrer os lugares a buscar estórias. Sentado diante do outro a ouvi-lo, anotava palavra por palavra. Como pude enganar a mim mesmo e ao outro por tanto tempo?
- Ouvia e pensava, e elucubrava, e escrevia, e questionava, e achava que escutava. Escutar é fechar o ramo de sua mente que cabe a você e deixá-la livre de suas ideias pré-concebidas, para deixá-la livre para ouvir o outro.
- Centrar-se nele. Permitir que ele diga o que sente e pensa, sem a interferência dos seus sentimentos e pensamentos. Deixar-se envolver pela fala do outro e sentir, e pensar, sobre o que ele está compartilhando com você.
- Respeitar sua fala. Respeitar seus pensamentos. Respeitar seus sentimentos. Vê-lo e escutá-lo. Respeitá-lo e compreendê-lo, só é possível, quando aquieto o meu ser, para dar a vez ao outro ser.
E finalizei agradecendo a lição recebida naquele dia.
Voltaremos à reflexão na próxima semana. Aproveito para questioná-los, respeitosamente, quanto à reflexão sobre os questionamentos propostos? Proponho que retomemos a eles no decorrer desta semana.
Até breve,
Gregório
30.09.13