AS PALAVRAS

06/10/2016 06:04

Recebi esta mensagem no período dos jogos paraolímpicos. Momento em que o mundo se rendia a coragem, a força e ao exemplo de superação de homens e mulheres que disseram sim a vida. Eles venceram dores, enfrentaram medos e preconceitos, acreditaram em si mesmos e transformaram as próprias vidas.

Ela conta-nos sobre a história de Ana. Uma amiga espiritual que assim como os nossos atletas paraolímpicos viveu grandes desafios quando encarnada. Gratidão, Ana por ter compartilhado sua história conosco!

Boa leitura!

Andréa

 

 

AS PALAVRAS

 

Ah! As palavras! Parecem, às vezes, não conseguir dizer o que queremos, deixando–nos aturdidos. Já em outros momentos, relatam coisas de nossa alma que tentávamos esconder e, simplesmente, num “momento de loucura” nos escapa da boca – revelando segredos até para nós mesmos.

Quando nos constrange é um pouco pior, pois logo a sombra do esquecimento dá um jeito de aliviar as dores. Ruim mesmo é quando fere as almas: a nossa e a dos outros. Culpa, rancor, inimizades, separações, remorsos, tristeza, dor, visita–nos sem dó ou piedade!

O que fazer? Como controlá-las? Pensar. Refletir. Talvez você acredite que está seja a melhor resposta. Também acreditei ser por muito tempo até que um dia… Deixe–me contar uma história.

Era vez uma menina descrente do poder das palavras. Eu mesma: Ana Maria. Sempre gostei dos desenhos, das imagens. Através deles me comunicava. Tinha símbolo para tudo. Até que um dia, descobri que não poderia mais usar minhas mãos. Uma doença rara, “enferrujou” meu dedos necrosando–os, e assim eles se foram, deixando somente punhos e braços.

Por muito tempo foi o meu fim. Desejei a morte, mas ela não veio. Então, tive que dá um jeito na vida. E Comecei aprendendo a falar. Como era tímida, falava pouco. Mal usava as palavras. Meu mundo era feito de silêncio e desenhos. Descobrir as palavras foi a minha salvação. Passei a tagarelar noite e dia.

Não posso negar que as primeiras palavras eram de reclamação. Era uma queixa sem fim. Gritos, gemidos até que a dor passou. Passou? É! As dores passam. Quando a deixamos passar. Resolvi deixá–la ir numa manhã de domingo.

Um tio muito querido foi me visitar. Chegou com uma engenhoca estranha.  Ele era inventor. “Venha pequena vou lhe ensinar a escrever, quem sabe até pintar”. Xinguei–o de mal e bobo. E corri para o meu quarto. “Venha. Não tenha medo. Confie em mim.”

Da janela, vi quando ele abriu a sacola mágica (assim chamávamos a sacola onde transportava suas invenções) e começou a montar a engenhoca. Varas, talas, mesa, lápis… Não resisti e corri para o lado deles (meus pais e irmãos já estavam ao lado dele, auxiliando–o).

Não tive coragem de experimentar. Ele demonstrou. Meu pai tentou. Meu irmão Gerald também. Minha mãe chorava, cheia de esperança. “Vá. Dite umas palavras”. Tenho medo. “Ótima frase”! Estimulava-me.

Com dificuldade escrevi estas e outras frases. Quanto mais escrevia as letras iam ficando mais claras. Resolvi tentar, no outro dia. Neste domingo ditei muitas frases. E a última foi: “Adeus dor! É era hora de partir”.

Na manhã seguinte, acordei animada. Mal tomei café e corri para o jardim. Meu tio já me aguardava como o combinado no dia anterior. Abracei–o, agradecendo–o. E comecei a escrever e nunca mais parei. Escrevi oito livros ainda menina e muitos outros como adulta. Eu tinha apenas doze anos quando tudo aconteceu.

Meu tio querido, meu grande companheiro de aventuras não desistiu até que eu consegui traçar belas linhas. Voltei a desenhar. Ilustrava meus próprios livros.

As palavras tem força. Principalmente, quando transcrevem relatos conscientes da alma. A primeira coisa a fazer não é mudar os pensamentos e sim a forma de pensar, de sentir, de agir. Acreditem as palavras acompanharão.

Grata pela atenção.

Ana Maria Albuquerque Fonseca

9/9/16

 

 

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