CIDADE SEM CORAÇÃO
Uma reflexão sobre as cidades que nos acolhem.
Os grandes centros urbanos, em que pese serem centros de desenvolvimento, são caracterizados também pela soma das mazelas de uma população que sofre.
O poeta, no Momento de Luz de hoje, nos convida a não passarmos desapercebidos por essas dores que circulam a cidade, confiantes de que a presença de Deus também se encontra ali.
Ótima semana para todos.
CIDADE SEM CORAÇÃO
A cidade resplandece à luz da noite
Com clarões, escondem coisa seria
As mazelas da pobreza e da miséria
Escondendo a fera na escura moita
O ressoar de gritos e sussurros
Por baixo do resplendor da noite escura
Onde atuam desrespeitos e grossura
Escondidos por paredes e por muros
Os casebres insalubres se escondem
Nas ruelas de buracos e bueiros
Tomadas por covardes baderneiros
A tomar do passante o que podem
Bem no meio de ratos e corujas
O andor da violência se agiganta
Encobertos por tenebrosa manta
Como ambientes de vampiros e bruxas
Porque o sofrimento não desperta
O clamor da rua emudecido
Deixando o coração endurecido
Penetrando a violência porta aberta
Ensurdecendo o silêncio claudicante
O trovão da lágrima caída
Que ressoa na criança já perdida
No meio da família invigilante
Os rastros de balas voam na noite
Que desperta suspiros e temores
Em algumas famílias, muitas dores
Com a morte chegando, vil açoite
O passante que espreita bem distante
Em seus barcos de turismo e aviões
Só percebem nas cidades os clarões
De luzes parecendo diamantes
As luzes da cidade que ainda brilham
Só não brilham tanto os corações
Por perdidos em doloridas emoções
Carecem dos bens que os humilham.
ACA