CRÔNICAS ESPÍRITAS – 09
As Crônicas Espíritas volta sua reflexão à história de Nassim, o sultão que, mesmo desencarnado, acreditava que mantinha todos os seus poderes mundanos.
Fica claro como, apesar de todo orgulho e egoísmo, a Misericórdia Divina buscou providenciar todos os caminhos para que Nassim construísse algo diferente para si.
Infelizmente, a falta de atenção a algo fora da sua persona, como uma mãe, um tutor, uma divindade, por exemplo, não o tornou capaz de perceber o seu correto caminho.
Uma leitura imperdível, que muito tem a acrescentar para todos nós.
CRÔNICAS ESPÍRITAS – 09
A história de Nassim, contada previamente nesta série de crônicas (4, 5 e 6), merece algumas reflexões. Observamos não apenas a presença do egoísmo em ação, mas também a atuação da Divina Providência, indicando que o auxílio do mais alto a ninguém desampara. Com os devidos impositivos cármicos para superar naquela encarnação, teria o sofrimento necessário ao burilamento da sua alma, com a presença dos agentes do bem, ao longo da sua vida, para orientá-lo no caminho.
Podemos distinguir bem algumas ocasiões em que a ação da Misericórdia Divina se faz presente.
Logo após o seu nascimento é acolhido por uma companheira do harém onde a mãe vivia. Esta senhora foi para ele uma mãe solidária e dedicada. Foi educado sem distinções entre o filho do seu ventre e ele mesmo, com os melhores valores morais e éticos dentro do contexto histórico de então. Amava aquela criança frágil e esperta, cujos sinais de inteligência eram precoces.
Mas Nassim encontra um “espelho” no seu irmão, egoísta também, e ambos disputavam a atenção da mãe que se desdobrava em cuidados e conselhos. Quando era contrariado nas suas vontades ou ultrapassava as regras do local, atribuía o limite ou castigo educador imposto pela mãe como uma discriminação por ser filho de criação, e mesmo quando ambos irmãos eram sujeitos a mesma penalidade sentia-se preterido. Já a partir de então, seu espírito belicoso, enxergava em quase todas as ocasiões uma disputa.
A fixação de Nassim na figura paterna, que determina uma série de ações moralmente desastrosas, inicia-se de modo insidioso na infância e aumenta no fim da mesma.
Estabeleceu com o pai uma relação doentia, pois, ao tempo em que o admirava como sultão, detentor de poder e riquezas, também sentia raiva alimentada pela rejeição. Perguntava-se porque não podia receber a atenção do pai, conviver com ele.
Na verdade, o velho sultão, a nenhum dos filhos do harém, dava maior atenção, com breves encontros quase protocolares para saber se estavam vivos e fortes, dirigindo-lhes poucas palavras. Seu tempo no palácio era concorrido e seguia os costumes da sua nação. E Nassim ansiava por esses encontros, com um misto de medo e respeito, esperando que seu nome fosse pronunciado, o que nunca ocorreu.
Sua mãe de criação tinha esclarecido aos filhos que estas eram as leis da época e que eles deviam respeito ao pai. Viviam bem protegidos, bem alimentados e com acesso ao estudo, num local de batalhas frequentes onde o povo fora do palácio enfrentava inúmeras dificuldades e penúrias, procurando acentuar sempre os pontos positivos. ]
A única criança que passeava nos pátios ou cavalgava com o pai era o filho oficial, mais novo que Nassim e vítima da sua inveja secreta. Daí começa seus planos de um dia tomar este lugar, e depois de ser ele mesmo o Sultão.
Mas a Misericórdia Divina se apresenta novamente.
Um dos tutores, professor de álgebra, ciências e astronomia, enxerga seu potencial. Afeiçoou-se ao aluno brilhante, rápido nos cálculos e disciplinado nos estudos. Observou sua ambição e procurou direcioná-la para as ciências matemáticas. Não tinha família constituída e numa idade madura, tratava Nassim como um filho que gostaria de ter tido. Preocupava-se com ele.
Quando o Sultão faleceu, redobrou seus cuidados pois sabia que as disputas palacianas tinham se iniciado. Resolveu aceitar um trabalho num sultanato europeu principalmente para poder levá-lo consigo. Poderiam desenvolver novas cartas marítimas com os conhecimentos que já tinha da astronomia e Nassim seria o seu herdeiro. Pensava num possível futuro brilhante para o jovem, interrompido pela sua negativa veemente em deixar o palácio.
Com a morte da mãe e a partida do tutor, seus freios morais afrouxaram-se completamente, e deixou aflorar todo o recalque do orgulho ferido, pai da vingança.
Teve ainda a estima sincera de uma esposa, cujo casamento arranjado foi vantajoso para ele. Não valorizada e triste, transformou seus sentimentos em indiferença e medo do que ele seria capaz de fazer para alcançar seus objetivos, à medida que conhecia mais sua ambição.
Mas uma ovelha desviada do caminho sempre encontrará um pastor disposto a orientá-la ao rumo. E a Misericórdia Divina entra novamente em ação. A mãe de criação que o amava verdadeiramente, nunca deixou de velar por ele. E graças à sua intercessão no mundo espiritual, à primeira brecha na sua resistência, pode ser trazido a uma Instituição Socorrista.
Resta um longo caminho para esta alma que há pouco despertou para as verdades eternas. Enfrentar seus erros, responsabilizando a si mesmo pelas suas desditas é o primeiro passo para o crescimento emocional. A cura dessa “criança ferida” pode ser longa, mas teve seu início.
Segue um sábio texto de Emmanuel, do livro Benção da Paz, por Francisco Cândido Xavier.
PALAVRA E CONSTRUÇÃO
"A palavra do Cristo habite em vós ricamente." - Paulo. (Colossenses, 3:16).
Comumente nos referimos à penúria, qual se estivéssemos à frente de um monstro instalado em definitivo junto de nós, esquecidos de que o trabalho é infalível extintor da miséria...
Mencionamos conflitos como quem tateia chagas irreversíveis, sem ponderar que o amor opera a extirpação de todo quisto de ódio...
Comentamos provações, dando a idéia de que se erigem à condição de flagelos permanentes, distanciados do otimismo que funciona por dissolvente da sombra...
Reportamo-nos a enfermidades com tamanho luxo de minudências como se fossem males eternos, injuriando os princípios de saúde, capazes de restituir-nos a euforia...
Destacamos a parte menos feliz dos semelhantes com tanto empenho que fornecemos a impressão de rentear com seres irremissivelmente condenados às trevas, ausentando-nos do bem, à luz do qual todos nos redimiremos um dia...
Conversemos segundo a fraternidade e o bom ânimo que o Cristo nos ensinou a cultivar.
Imperfeições, desastres, doenças, desequilíbrios e infortúnios assemelham-se a meros borrões em nossos cadernos de experiência educativa, no aprendizado da existência transitória, a fim de senhorearmos os nossos títulos de herdeiros de Deus na vida eterna.
Claro que apagaremos tais desdouros com a lixívia do nosso próprio sofrimento, mas não adianta ampliá-los através da exaltação emotiva ou do comentário inconveniente.
Em baixo, a terra parece uma estância obscura, mas o Sol brilha acima.
Recordemos a exortação de Paulo:
- A palavra do Cristo habite em vós ricamente.
Muita paz para todos nós.
Francesca Freitas
02-01-2015