CRÔNICAS ESPÍRITAS – 11
A crônica espírita dessa semana faz uma reflexão da situação do nosso último personagem, escravo sofrido, cujos únicos apegos eram um afeto respeitoso aos pais e o seu amor à jovem companheira de infância.
Nessa análise verificamos a importância da humildade no aceitar ser acolhido e orientado.
Não a toa, temos o convite para a leitura do texto de Bezerra de Menezes que fala dos humildes e submissos.
Imperdível.
CRÔNICAS ESPÍRITAS – 11
Refletindo acerca da história do antigo escravo, aprendi valiosas lições.
O amigo foi submetido a duras provações, nascido e criado numa condição de submissão e injustiça social, e ainda assim não desenvolveu traços de revolta ou desejos de vingança. Essa alma tinha uma nobreza intrínseca, singela e humilde.
Enfrentou suas provações encarnatórias com uma resignação que me chamou a atenção, e possivelmente cumpriu o aprendizado programado. Foi um homem pacífico que via na beleza da natureza e nos ciclos naturais da vida uma realidade maior que a condição de escravo, e isso o libertava internamente, talvez de modo inconsciente.
A força do seu suor e do seu trabalho físico era direcionada por outros, o resultado da labuta não era dele, mas mesmo assim cumpria suas tarefas como se assim o fosse. Seus únicos apegos eram um afeto respeitoso aos pais e o seu amor à jovem companheira de infância.
Não costumava alimentar memórias negativas, revivenciando situações de sofrimento, como se intuído que tudo era transitório, como uma tempestade que devasta, mas passa.
Foram a saudade e a melancolia diluindo suas esperanças, e ambas, somadas ao isolamento voluntário, funcionaram como motores para o enclausurarem em si mesmo, quase ovoidizado. Esse processo auto imposto dificultou o acesso às energias benéficas dos benfeitores espirituais, que nunca o abandonaram. Era cercado por vibrações de carinho e cuidado, a aguardarem o seu momento de despertar.
Lembrei-me das condutas do sultão, onde a humildade ausente proporcionou ao germe da revolta o alimento abundante.
Encerro com esse texto de Dr. Bezerra de Menezes, do livro A Coragem da Fé, cap. 30, psicografia de Carlos A. Bacelli, com seus sábios ensinamentos.
HUMILDES E SUBMISSOS
“Filhos, sede humildes e submissos, diante das provas que vos afligem.
Recordai-vos da advertência do Senhor e não resistais ao mal que vos queiram fazer.
Aceitai, com resignação, o peso da cruz sobre os ombros e não intenteis opor-vos ao movimento natural da Vida, no curso dos acontecimentos que se sucedem.
É inútil desferir braçadas contra a correnteza...
Harmonizai-vos com a Vontade de Deus e não queirais modificar, com violência, o rumo das coisas que concorrem para o vosso aperfeiçoamento nos fatos que se desencadeiam através das circunstâncias.
A Fé que opera no Bem de todos não se caracteriza por passividade em quem não consegue dar solução imediata aos próprios problemas.
Prossegui vivendo com determinação, fazendo o que vos seja possível pela melhoria da existência, sem que jamais vos acomodeis.
A verdadeira resignação não é o retrato de nenhum homem de braços entregues à inércia e de pernas que não lhe permitam sair do lugar...
Trabalhai na solução das dificuldades alheias e tereis as vossas solucionadas, porquanto é da Lei que ninguém seja auto-suficiente o bastante que dispense o concurso do próximo na construção da própria felicidade.
Filhos, todos somos levados a facear situações que nos estimulam a humildade.
Agradeçamos, pois, os reveses que se nos tornam indispensáveis à contemplação da realidade íntima em que vivemos.
Infeliz de quem abandona o corpo de carne, vitimado pela ilusão que lhe dificulta o despertar na Vida Mais Alta.
O homem que não tropeça e cai ignora a sua fragilidade de espírito e acredita ser o que não é.
Se pretendeis alçar vôo seguro demandando o Infinito, nivelai-vos ao chão, procurando, primeiro, o fortalecimento das próprias asas.”
Muita PAZ para todos nós.
Francesca Freitas
12-01-2015