CRÔNICAS ESPÍRITAS -13
A crônica espírita de hoje relata um atendimento na nossa mediúnica, em que fica evidente o quanto o nosso orgulho e intolerância podem fazer mal a nós mesmos.
Acompanhem esse bate papo entre um aristocrata, acostumado a todos os tipos de regalias, contudo se apresentando doente, e uma pessoa que o acolhia, buscando, simplesmente, sua própria melhoria.
Imperdível experiência.
CRÔNICAS ESPÍRITAS -13
Há alguns meses atrás atendi a um senhor cuja palavra “recalcitrante” descreve bem o seu estado de espírito. Acercou-se do médium emanando vibrações de irritação e impaciência. Ignorando, a princípio, a minha presença, observava, com uma postura de arrogância e superioridade, a movimentação na sala mediúnica.
“Agora eu respondo ao seu boa noite porque fui muito bem educado”, e com um riso de desdém perguntou que tipo de local era a aquele, com uma faina de trôpegos, estropiados, tresloucados, gente de toda espécie!
Respondi que estávamos numa Instituição de Caridade e que funcionava como um Hospital e Casa de Acolhimento. Foi logo interpelando: “Vocês não escolhem o tipo de gente que vão atender, são desorganizados e não educam a essa gente. Isso aqui é uma bagunça. Falam ao mesmo tempo, gritam e precisam de ordem. Eu já trabalhei num grande hospital e garanto que não havia essa bagunça que vejo aqui.”
Eu esclareci que acolhíamos a todos que chegavam, dentro das nossas possibilidades, e que seriam encaminhados aos vários setores da Instituição. Cada caso era avaliado de acordo com as necessidades mais urgentes. Naturalmente uma área de entrada e triagem era mais movimentada.
Perguntei-lhe se estava se sentindo bem, e ele disse que sim, sugerindo que o ambiente não era digno da sua presença. Intuída pelos Mentores do trabalho, perguntei-lhe sobre a ferida que tinha na perna. Ficou surpreso e perguntou quem havia me contado, pois não haveria como eu saber. Eu lhe informei que trabalhava como enfermeira e que o ferimento exalava um odor característico. Me olhou com raiva por ter descoberto seu segredo.
Visualizei um Senhor com cerca de 50 e poucos anos, num terno de linho claro bem engomado, muito arrumado e com uma bengala adornada, que indicava alguém com posses e muito cuidadoso com a aparência pessoal. Escondia bem uma ferida crônica na perna esquerda, sob várias camadas de gaze, e respondia aos que lhe perguntavam sobre a bengala que tinha tido um acidente alguns anos antes e que seu joelho não era estável.
Nesse momento revelou que se aproximou da Casa porque algumas pessoas o informaram que havia um Hospital com bons médicos, porem aquele certamente não seria o local certo para atendê-lo. E começou novamente a apontar as supostas falhas que presenciara.
Contou que, apesar de não trabalhar diretamente na área de saúde, ajudou a administrar a um Hospital, como presidente de um conselho. Sua abastada família ajudava a um Hospital, e como seu pai tinha doado muito dinheiro, foi “pôr ordem” no local. Disse que todos o tratavam com o devido respeito e reverência. Era logo atendido, e numa sala especial, mas que infelizmente ninguém o tinha curado, e que, apesar de todos os donativos para pesquisas, foram incompetentes para encontrar o remédio certo. Aguentava as dores que sentia com o estoicismo dos bem educados, e que a educação tinha passado longe daqui.
Provocou o que pôde, dizendo-se surpreso consigo mesmo por dar ouvidos à uma ilustre desconhecida, tornando bem evidente seu mal humor e arrogância.
Senti que ele queria uma contenda verbal e o convidei para vir ao jardim para sentar e espairecer um pouco. Disse que eu queria desviá-lo da visão da nossa má gestão. Que realmente não poderia estar junto a loucos e maltrapilhos. A sua posição não era para ficar em espera ou numa fila. Já deveria ter sido atendido pelo melhor médico e numa sala especial, e que não seria “qualquer um” a mexer na sua perna.
Respirei e pedi a inspiração da Misericórdia Divina. Ficara evidente que ele precisava de ajuda, mas o orgulho e o desdém para com os menos favorecidos dificultavam o auxílio. Não entrei em contenda e reiterei o convite.
Sentou-se num banco e apreciou o jardim. Talvez tocado pela beleza das flores parou um pouco de reclamar e lhe ofereci uma pomada para colocar no seu ferimento após um curativo. Disse-lhe que o material lhe seria entregue e que ele poderia sair quando bem entendesse.
Surpreendido com esta possibilidade, perguntou-me se não havia alguém para fazer o tal curativo, pois já sentia as dores como ferroadas na ferida fétida. Senti seu temor em sair da nossa Instituição sem o atendimento. Possivelmente essa mudança de atitude possibilitou que começasse a enxergar muitas pessoas no jardim extenso, convalescentes andando com o auxílio de outros e o pessoal da área de saúde.
Contarei mais na próxima semana e encerro hoje com esse sábio texto de Joana de Angelis, do livro Vida Feliz, Cap.23.
“Evita as contendas, sempre inúteis.
Entre contendores a razão é sempre de quem não se envolve em discussões infrutíferas.
Nessas lutas verbais e alterações violentas, surgem males de difícil reparação.
As palavras que a ira põe na boca do altercador, raramente expressado que ele pensa traduzem-lhe o estado de desarmonia e a necessidade de esmagar o antagonista.
Esclarece com calma e argumenta serenamente. Se o outro não leva em consideração os teus conceitos, silencia e entrega-o ao tempo que a todos nos ensina
sem pressa.”
Muita paz para todos nós.
Francesca Freitas
01-02-2015