CRÔNICAS ESPÍRITAS -15

30/03/2015 06:30

A crônica espírita de hoje trata da nossa relação, como humanidade, com a doença.

Uma reflexão sobre as nossas noções de saúde e doença, encerrada, de forma magistral com texto de Dr. Bezerra de Menezes, cujo título é Doença e Cura.

Imperdível.

 

 

CRÔNICAS ESPÍRITAS -15

 

Inspirada no relato das duas últimas semanas faço hoje alguns comentários e questionamentos sobras as noções de saúde e doença. A interface entre o que é dito como saudável ou não, o que é uma doença e quem é o sujeito doente é complexa.  Muitos antigos conceitos sobre o tema foram modificando-se ao longo do tempo, e, supostamente, o maior acesso à informação e a educação poderia pôr um fim em muitos mitos e inverdades, o que não ocorreu até então.

Infelizmente, a era das cavernas já acabou há muitíssimo tempo, contudo certas práticas com recém-nascidos “defeituosos”, de serem deixadas à míngua, jogados em rios ou mortos, ainda ocorrem em tribos ou quiçá em vilarejos pelo mundo.

Na antiga Grécia o termo “estigma” estava relacionado à presença de sinais corporais que desqualificavam a pessoa marcada, tais como escravos e criminosos, que, ao serem identificados, eram discriminados pelos cidadãos livres de marcas.

Eu mesma testemunhei, muito cedo, o preconceito de uma família com um portador de Síndrome de Down. Um jovem mantido praticamente encarcerado em casa pelos pais, morava na mesma rua, e nas poucas vezes que saía de casa o levavam à noitinha, para não ser visto.  As famílias escondiam as doenças e, o pior, os doentes. As “casas de repouso”, dispensários, leprosários e hospícios, também recolhiam os enjeitados pelas famílias nas disputas pelas posses, na maioria das vezes por herança.

Muitas pessoas ainda guardam uma postura estigmatizadora em relação ao doente, seja por vergonha, por culpa, por medo do julgamento alheio, excesso de vaidade ou outros. E o próprio portador de algum tipo de deficiência física ou doença tem, por vezes, ele mesmo, o preconceito que não ajuda a aceitar uma condição diferente daquilo de se diz como normal, ou sadio.

O desconhecimento, associado a informações truncadas, gerou preconceitos que se arraigaram fundo no inconsciente coletivo. A confusão entre doenças e doentes é tamanha que, muitas vezes, não nos apercebemos como determinados termos e frases são usados cotidianamente pela maioria de nós. Ditas de modo consciente ou como “ato falho”, as palavras associadas à doença física ficam entrelaçadas a defeitos morais, com uma conotação pejorativa, e, com menor frequência, como desculpa para faltas e falhas éticas.

Às denominações mais antigas tais como leproso, louco, epiléptico, canceroso ou cancroso, retardado, aleijado e bexiguento, foram somadas outras mais recentes, como aidético. Vários termos da psiquiatria foram incorporados à linguagem leiga, a exemplo da idiotia, esquizofrenia, depressão e etc., e um simples diagnóstico médico passa a qualificar uma pessoa pelo seu suposto estado de saúde mental e moral.

O homem busca a perfeição e a felicidade, e a saúde passa a ser um fator condicionante neste caminho. A associação entre saúde e perfeição física, e até mesmo perfeição moral, constrói modelos que desmoronam facilmente com uma reflexão mais aprofundada.

Nossa humanidade é posta em cheque e julgamento de valores pela medida das nossas imperfeições, e a doença que é evidente fisicamente ou exposta verbalmente pode tornar pública a “falha” humana.

Todos pedimos saúde, mas desconfio que a grande maioria de nós não se pergunta porque está doente, e o que é preciso aprender naquela condição mórbida.

Lembremos que “tudo passa”, a doença e a saúde, nos corpos físico e perispirítico, são características da evolução de cada Espírito individual, são experiências necessárias à nossa evolução.

 

DOENÇA E CURA

 

Filhos, toda doença tem a sua origem nas imperfeições do espírito, que reflete sobre as células que lhe constituem o corpo material os desajustes da consciência.

A doença, quando se exterioriza, se revela e pede tratamento.

Infelizmente, no entanto, o homem tem oferecido aos seus males físicos, que são, em essência, males espirituais, remédios que agem perifericamente, ou seja, que não actuam no âmago da questão.

Os distúrbios psicológicos do ser, fruto do seu estado de desarmonia com a Lei, provocando-lhe sensações de sofrimento orgânico, tornam evidentes as necessidades que se lhe radicam n'alma. O que é subjectivo faz-se concreto para que se lhe corrijam as distorções.

Embora realizasse e realize curas no corpo perecível, sujeito às incessantes transformações da matéria, Jesus se corporificou no mundo para empreender a cura das almas, que não se efectivará sem o concurso dos enfermos que a desejem.

A falta de perdão, o ódio, a revolta, a descrença, o ressentimento e toda a variada gama de sentimentos corrompidos engendram causas profundas nas dores que a Medicina estuda e cataloga, sem, no entanto, dar-lhes combate eficaz.

Filhos, a harmonização do vosso mundo íntimo vitaliza as células em desgaste e suprime as consequências mais drásticas do carma, a se expressarem tantas vezes nas patologias que vos limitam a acção.

Pautai-vos por uma conduta cristã e, embora mais tarde não vos eviteis de facear a morte, convivereis com a dor sem as agravantes do desespero.

A longevidade que o homem pretende no corpo material será uma conquista do espírito e não meramente da Ciência, no campo das prevenções.

Elevai o vosso padrão mental e educai os vossos sentimentos, atraindo para vós as forças positivas da Criação como quem sabe escolher para si o ar que respira.

Não olvideis que, basicamente, toda cura depende da movimentação da vontade do próprio enfermo, sem cujo concurso determinante ela não ocorrerá.

 

Dr. Bezerra de Menezes

 

 

Muita paz para todos nós.

Francesca Freitas

27-03-2015

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