CRÔNICAS ESPÍRITAS – 3

24/11/2014 06:47

“Desvairado apego ao nosso "eu", o egoísmo, sem dúvida, é treva da ignorância ocultando-nos o caminho real de nossos deveres à frente da imortalidade sublime”.

Partindo de belíssimo texto de André Luiz, a Crônica Espírita de hoje continua com seu olhar na chaga do egoísmo.

Uma viagem que nos leva a São Tomás de Aquino e a Ayn Rand.

Imperdível.

 

 

CRÔNICAS ESPÍRITAS – 3

 

Egoísmo

 

“Em todos os lances da evolução, seremos defrontados pelo egoísmo a entravar-nos o passo.

É sombra em nosso sentimento em forma de vaidade e tóxico em nosso raciocínio na feição de orgulho.

É veneno em nosso coração sob a máscara do crime e fogo em nossa alma, sob a capa agressiva da revolta.

É incêndio em nosso peito, sob a tempestade da cólera e gelo em nossas mãos, sob a inércia da preguiça.

Aparece em todas as fases do dia, ora sob a faixa do desculpismo de variados matizes, ora sob os mil modos com que apresentamos a nossa deserção da luta santificante.

Desvairado apego ao nosso "eu", o egoísmo, sem dúvida, é treva da ignorância ocultando-nos o caminho real de nossos deveres à frente da imortalidade sublime.

Se desejamos efetivamente alcançar a bendita claridade da ascensão, abandonemo-lo aos resíduos da estrada e, fugindo ao circulo estreito de nossa personalidade, através da ação constante no bem, consagremo-nos à Vontade do Senhor - única fórmula de libertação que nos conduzirá à felicidade verdadeira.

Cultivemos a boa vontade, a compreensão e a simpatia. E, aprendendo a servir sem descansar, seguiremos do vale escuro da ignorância para os cimos da vida, onde nos esperam as alegrias eternas da sabedoria e do amor.

                              

André Luiz, por Francisco Cândido Xavier da Obra Cartas do Coração.”

 

 

Com o egoísmo, palavrinha nada fácil, continuamos esta semana. 

Pergunto-me como uma “chaga da humanidade”, assim considerada textualmente por Emmanuel pode ter uma boa conotação, ainda mais considerando imperiosa sua extirpação para o bem da humanidade. A maioria de nós não deseja para si uma doença, nem moléstia leve ou ferida funda, pelo menos conscientemente.

Passei alguns dias refletindo, e durante a autoanalise ao me deparar com sentimentos egoísticos, a razão disparava logo a frase: “um pouco de egoísmo não faz mal”, está escrito na Codificação Espírita. Percebida a armadilha interna, observei como o egoísmo tende a se defender auto justificando-se.

Lembrei-me logo de pessoas que tem comportamentos pouco éticos, preconceituosos ou egoístas mesmo, que dizem: “mas está na Bíblia!” E olha euzinha fazendo o mesmo...

Se não houve erro de tradução na referência de Kardec, o egoísmo como sentimento seria praticamente neutro e dose-dependente, e apenas com seu abuso seria prejudicial. Faço uma analogia com algo material, uma determinada substância num remédio em gotas, que faria bem ou mal a depender da posologia. Na homeopatia até um “veneno” pode ter um efeito terapêutico, em pequenas doses, num período determinado e para a doença certa.

Mas, como nos faltam palavras para uma boa expressão das ideias, pedi licença aos Mestres para parafrasear a Kardec: “Este sentimento, o amor-próprio, contido em justos limites é bom em si...” ou “Esse instinto, de auto-preservação, contido em justos limites é bom em si....”

Agora vai ficar mais difícil cair nas armadilhas do egoísmo.

Como o egoísmo está relacionado ao apego, material ou imaterial, e muitas causas de sofrimento relacionam-se à perda ou à expectativa de perda, o desapego é um bom remédio. Desapego não só de bens materiais, mas de afetos e de crenças, afinal somos impermanentes nesses domínios.

O egoísmo é inimigo ferrenho da felicidade, da leveza, da paz de espírito, da verdade que liberta e esclarece, da partilha e do amor.

E, por mais inusitado que seja, Ayn Rand e São Tomás de Aquino tem algo em comum. No fim da era medieval, este religioso pensava em termos mais amplos acerca da humanidade. Ambos filósofos, uma extremamente racional e o outro místico, embora também racional, reputaram a felicidade como o maior objetivo do ser humano.

São Tomás de Aquino inclui o Divino e a bem-aventurança nesta busca, reforçando que a fé é uma valiosa aliada. Mas não qualquer “fé”.  Uma fé ancorada nos preceitos de Jesus Cristo, que traz o amor e a ética, nos tranquiliza e inunda de esperança.

 

OBS. Indico como referencia aos interessados este trabalho sobre São Tomás de Aquino: ÁGORA FILOSÓFICA

(https://www.unicap.br/ojs-.3.4/index.php/agora/article/view/152/139)

Muita PAZ para todos nós.

Francesca Freitas

17-11-2014

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