ERA UMA NOITE BONITA DE PRIMAVERA

31/07/2011 16:58

É com muita alegria que postamos o Momento de Luz desta terça. Um Momento que nos foi ofertado por um morador de rua e que nos ensinou muito.

A vida é repleta de aprendizado e um dos principais é que, na caridade, somos nós quem mais aprendemos.

Muita luz a todos.

 

 

 

ERA UMA NOITE BONITA DE PRIMAVERA

 

Era uma noite bonita de primavera, as luzes nos davam alguma tranqüilidade para atravessar os locais mais sofridos da cidade.

 

A caravana de são Francisco da qual participávamos tinha saído, como toda sexta feira, para saciar a fome física e espiritual, dos moradores de rua, da cidade de Salvador.

 

Era um grupo de mais ou menos 10 trabalhadores da casa espirita “CACEF”, que toda semana fazia este roteiro Cristão, para levar algum conforto aos deserdados de bens materiais.

 

Íamos pelas ruas: relógio de são Pedro, Baixa de sapateiros e calçada, distribuindo sopa, mingau, pão, cobertores, alegria e uma palavra amiga, dando ciência que apesar das dificuldades, Jesus estava presente na vida de toda criatura.

 

Nesta noite, como o alimento era abundante e sobrara, esticamos nosso roteiro ate caminho de areia, rua próxima às obras sociais Irmã Dulce. Debaixo de uma marquise encontramos heterogêneo grupo de indivíduos a dormir, pois, já era entorno das 23 horas.

 

Chamamos com respeito, “como deve ser quando adentramos qualquer residência”. Foram acordando e aceitaram com alegria o repasto revigorante, “produzido por senhoras trabalhadores do centro espirita”, que mais parecia maná, neste deserto de bens, de conforto e de amor.

 

De repente, levanta-se uma criatura estranhamente suja, de cabelos trançados, recobertos de estranha gosma brilhante de falta de higiene. Sua atitude agressiva demandava cuidados. Em alerta, meu companheiro e eu, os únicos homens presentes, esperamos pela agressão que se avizinhava.

 

Diriges-se o individuo para uma senhora de nossa equipe “dona Esther”, que a todos os moradores de rua habituais conhecia pelo nome. Com dedo em riste começou a falar: “todos te amam, eu não; todos te admiram, eu não; todos te agradecem, eu não; todos te idolatram, eu não“.

 

A cada aparente agressão ela ficava constrangida e nós preocupados com o desfecho de tal atitude. Apesar disso, ela dizia: “mas que foi que eu lhe fiz, meu filho”? O homem retrucou: “todos te veneram eu não; mas quando chegares ao mundo da eternidade, todos te vão esquecer, mas EU NÃO”.

 

O silencio foi sepulcral, ante tal desfecho inesperado, parecia que o peso do mundo tinha sido retirado de nossas costas. O choro foi contaminante e todos nos olhávamos surpreendidos através das lagrimas incontidas.

 

Aí ele declinou seu nome e sua historia: fora estudante de filosofia de conhecida universidade, sua vida tinha dado uma guinada lamentável quando se envolveu com praticas degradante das drogas, levando-o a perder os bens materiais e sua perspectiva de vida. A rua tinha sido a única opção que lhe restara.

 

Para nós, foi uma lição de vida; julgamos diante do que parecia e do que se tornou sua atitude e aparência. Envergonhados e ao mesmo tempo felizes diante da experiência, só nos restou agradecer a Deus e lamentar a nossa pequenez.

 

ACA

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