FILHO DE MÃE MORTA
Que tal começarmos a semana com poesia?
O amor é possível além da vida e presente em situação de extrema dor.
O poeta, no nosso Momento de Luz de hoje, nos convida a viver o sofrimento do outro.
Que esse momento desperte nossos corações para as dores do mundo, nos levando ao campo do trabalho.
FILHO DE MÃE MORTA
Na beira da estrada velha
Chora mãe emocionada
De sofrer desesperada
De falta de pão e amor.
Sentada, o filho no colo
Sem estrada sem caminho
Pior que ave sem ninho
Cantando magoas da dor.
De choro fraco e latente
Chora seu filho também
Não sabe que nada tem
Nem casa nem leite nem pai.
Só o sol por testemunha
As estrelas à noite e a lua
Também se apresentam nuas
Quando a chuva fria que cai.
Em reza pede à virgem
Cubra sua nudez com véu
Que mande descer do céu
Um pouco de amor divino.
Quanta tristeza na alma
Quanta rudez no filho seu
Que para os anjos de Deus
Não é esse o seu destino.
Só tem por banho a lagrima
O mato por alimento
Por viver tem sofrimento
Por roupa velho farrapo.
Por cobertor as estrelas
Nas noites de muito frio
Esconde-se a beira do rio
Sob os arbustos do mato.
De tanta fome e de frio
Definha-se a pobre dama
O capinzal é sua cama
Sob as estrelas e chão úmido.
A fraqueza se apresenta
Sente tremores no corpo
Uma palidez de morto
Caminhar do triste túmulo.
Quando a criança desperta
Não reconhece o acontecido
Levanta-se bem decidido
Vamos... Vamos mãezinha.
Em busca da liberdade
Que o sol já se levanta
Um brilho nele que encanta
Pois já é de manhãzinha.
De labutar levantá-la
De muito tentar desiste
Começa ficando triste
Percebe a capa da morte.
Levanta-te mãezinha
Veja que está lindo dia
Reza-me a Ave Maria
Para que eu seja forte.
Porque não falas comigo?
Que semblante triste é esse?
Será que não fiz a prece
Como tu me ensinaste?
Falo-te do meu coração
Que rezei todos os dias
As minhas Ave Maria
Do jeito que me falaste.
Senhor, te peço com dor
Cobri-la com quente manta
Porque ela é uma santa
Que vai morar com Jesus.
Sempre me falava disso
Disse-me algumas vezes
Nalgumas de suas preces
Pediu-Lhe tirasse a cruz.
De joelhos ante a tumba
Falava a pobre criancinha
Leva-me contigo mãezinha
Mesmo na cova de morto.
Que eu quero te aquecer
Como fazias comigo
Eu quero dar-te o abrigo
Dar-te calor e conforto.
Vim te trazer este ramo
De flores lindas do campo
E trazer algum encanto
As tuas dores sem fim.
Junta-as com tuas luzes
Na casa linda de Deus
Promete a este filho teu
Trazer luzes para mim.
Lembras-te? estava contigo
Naquelas noites de frio
Deitada a beira do rio
Acolchoando meu dormir.
Estar dormindo fingia
Pá não ver as tuas lagrimas
Não se explicam em paginas
Toda a dor do teu sentir.
ACA