FILHO DE MÃE MORTA

19/09/2016 07:26

Que tal começarmos a semana com poesia?

O amor é possível além da vida e presente em situação de extrema dor.

O poeta, no nosso Momento de Luz de hoje, nos convida a viver o sofrimento do outro.

Que esse momento desperte nossos corações para as dores do mundo, nos levando ao campo do trabalho.

 

 

FILHO DE MÃE MORTA

 

Na beira da estrada velha

Chora mãe emocionada

De sofrer desesperada

De falta de pão e amor.

Sentada, o filho no colo

Sem estrada sem caminho

Pior que ave sem ninho

Cantando magoas da dor.

 

De choro fraco e latente

Chora seu filho também

Não sabe que nada tem

Nem casa nem leite nem pai.

Só o sol por testemunha

As estrelas à noite e a lua

Também se apresentam nuas

Quando a chuva fria que cai.

 

Em reza pede à virgem

Cubra sua nudez com véu

Que mande descer do céu

Um pouco de amor divino.

Quanta tristeza na alma

Quanta rudez no filho seu

Que para os anjos de Deus

Não é esse o seu destino.

 

Só tem por banho a lagrima

O mato por alimento

Por viver tem sofrimento

Por roupa velho farrapo.

Por cobertor as estrelas

Nas noites de muito frio

Esconde-se a beira do rio

Sob os arbustos do mato.

 

De tanta fome e de frio

Definha-se a pobre dama

O capinzal é sua cama

Sob as estrelas e chão úmido.

A fraqueza se apresenta

Sente tremores no corpo

Uma palidez de morto

Caminhar do triste túmulo.

 

Quando a criança desperta

Não reconhece o acontecido

Levanta-se bem decidido

Vamos... Vamos mãezinha.

Em busca da liberdade

Que o sol já se levanta

Um brilho nele que encanta

Pois já é de manhãzinha.

 

De labutar levantá-la

De muito tentar desiste

Começa ficando triste

Percebe a capa da morte.

Levanta-te mãezinha

Veja que está lindo dia

Reza-me a Ave Maria

Para que eu seja forte.

 

Porque não falas comigo?

Que semblante triste é esse?

Será que não fiz a prece

Como tu me ensinaste?

Falo-te do meu coração

Que rezei todos os dias

As minhas Ave Maria

Do jeito que me falaste.

 

Senhor, te peço com dor

Cobri-la com quente manta

Porque ela é uma santa

Que vai morar com Jesus.

Sempre me falava disso

Disse-me algumas vezes

Nalgumas de suas preces

Pediu-Lhe tirasse a cruz.

 

De joelhos ante a tumba

Falava a pobre criancinha

Leva-me contigo mãezinha

Mesmo na cova de morto.

Que eu quero te aquecer

Como fazias comigo

Eu quero dar-te o abrigo

Dar-te calor e conforto.

 

Vim te trazer este ramo

De flores lindas do campo

E trazer algum encanto

As tuas dores sem fim.

Junta-as com tuas luzes

Na casa linda de Deus

Promete a este filho teu

Trazer luzes para mim.

 

Lembras-te? estava contigo

Naquelas noites de frio

Deitada a beira do rio

Acolchoando meu dormir.

Estar dormindo fingia

Pá não ver as tuas lagrimas

Não se explicam em paginas

Toda a dor do teu sentir.

 

 

ACA

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