HORA DE PARTIR

29/06/2012 08:19

 

Esta semana, no Momentos de Luz, Gregório se despede de sua primeira excursão à terra. Muitos foram os ensinamentos que ele e seu Grupo, incluindo a comunidade da Casa do Cristo, compartilharam conosco.

Destaco a escuta da voz interior como o mais importante. Pois acredito que o autoconhecimento é o caminho que nos leva ao crescimento individual e coletivo. A porta de entrada para a reforma íntima necessária a todo espírito em processo de evolução.

 Espero que, assim como eu, tenham aproveitado das experiências compartilhadas para dar mais um passo.

Abraço afetuoso,

Andréa

 

 

HORA DE PARTIR

 

Tamanha era minha angústia naquele dia. Não conseguia me acalmar. Há dias esperava que Samuel mudasse de ideia. Não tinha jeito. Era chegada a hora de partir.

Na verdade, os dias se multiplicaram. Era para ser uma excursão de reconhecimento. Deveríamos nos preparar para a verdadeira missão. Porém, foram tantos os ensinamentos, que Samuel achou oportuno a nossa estadia por mais dias, além do previsto.

Mas já não era mais possível adiar. Despedir-nos-íamos à noite para retorno em breve. Nem isso me consolava. Havia me afeiçoado aos amigos encarnados e era meu desejo estar perto deles. Sentia-me em família. E, apesar de não poder ser visto pela maioria das pessoas, sentia-me amado como nunca antes fora.

Quando possível, os revelo agora, trocava experiências com Rute, Samanta e a pequena Laura, os únicos que podiam nos ver. Por isso, aproveito nosso último dia na terra para lhes contar minha breve aventura com a pequena.

Costumava acompanhá-la pelos passeios ao bosque. Ora porque gostava da beleza daquele lugar, ora porque me preocupava com ela. Não sabia o porquê, mas a linda menina, de longos cabelos cacheados e suave sorriso nos lábios, me conquistara desde o primeiro instante. Trazia no olhar uma doçura sem igual. Era perspicaz, inteligente e gostava de escrever.

Preciso confessar que, a primeira vez que a segui até o bosque, estava interessado no pequeno caderno que levava debaixo do braço. Vocês me conhecem e sabem que não posso ficar longe das letras. O meu também estava comigo, a anotar minhas observações, e achei interessante conhecer o que uma pequena descrevia no seu bloco de notas.

Naquela última tarde, ao fitá-la, não de muito perto, surpreendi-me quando ela convidou-me a aproximar. Pensei que falava com outro encarnado, porém procurei-o sem nada encontrar. Ela sorriu da minha busca e disse:

-É você mesmo Gregório. Posso chamá-lo assim ou prefere que eu acrescente o senhor?

Respondi questionando.

- Gregório. Como sabe meu nome?

- Vejo- os chamá-lo assim.

- Ver?

- Sim vejo. Na verdade ouço.

- Você nos vê e ouve.

- Sim, porque o espanto. Você também não nos vê e ouve.

Já percebera que nós tínhamos muitas coisas em comum, não é mesmo.

Continuou o dialogo entregando-me seu caderno.

-Tome. Leia o que escrevi sobre vocês.

Era inacreditável. Tinha anotações desde o primeiro dia que chegamos à comunidade. Fui folheando as páginas e matando a saudade de cada um dos eventos e conversas que presenciamos. Ela descrevia nossa presença e participação. Cada palavra de incentivo e encorajamento soprada ao ouvido, a imposição das mãos emanando energias salutares, os sorrisos em aprovação as belas condutas que assistíamos.

- Porque nunca falou conosco?

- É que prefiro observar e escrever. Não sou muito de conversar. Só quando necessário.

- E agora acha necessário? Perguntei em provocação

-Sim. Não quero que partam. O que posso fazer para impedi-los? Como sei que também não deseja ir. Pensei em desenvolvermos um plano. 

Parecia que, realmente, estava disposta a agir.

- Que tipo de plano? Continuei a provocá-la.

- Sei lá. Acha que se eu pedir com carinha de choro funciona? Funciona com meus pais.

Minha vontade era abraça-la, mas não sabia se era possível. Então, restringi-me a responder.

-Tenho certeza que será comovente, mas estou convencido que já é hora de ir.

Na verdade estava tentando me convencer, relembrando as falas de Samuel. Mas precisava ser firme, eu era o adulto e não podia deixar aquela garotinha sofrer. Porém, ela correu para os meus braços e o impossível aconteceu. Consegui abraça-la, senti-la. E, diante da minha surpresa, suas lagrimas deram lugar a risadinhas. Trocamos de lugar. Agora eu era a criança indefesa cheia de questionamentos e ela o adulto possuidor do conhecimento que me tiraria da ignorância.

- Não sabe que pode se materializar? Estou doando-lhe meu fluido.

Hem?!

Fui salvo pela chegada de Samuel. Seria duro atestar minha falta de conhecimento diante de uma menininha. 

-Olá Laura. É hora de se despedir, precisamos participar da última reunião antes de voltarmos.

Deu-me o último beijinho e correu para Samuel. Ainda tentou fazer sua carinha de choro, mas logo desistiu, pois ao olhar para mim caímos no riso. Rimos nós três até chegar a Casa do Cristo.

Na última reunião antes de nossa partida, Samuel intuiu Samanta e Rute na reflexão e oração final. Deixou-lhes uma mensagem de incentivo para continuar a caminhada e de agradecimento pelo grande aprendizado de toda a equipe.

Muita luz alcançou a todos naquela noite. Um a um, nós fomos nos despedindo, emanando todo amor que contínhamos no coração. Diante da pequena Laura meu coração se espremeu. Pena ter feito aquela pequena grande amiga no último segundo da nossa estadia. Ela, sempre mais preparada do que eu, soprou ao vento.

-Gregório, vejo-o em breve. Em meus sonhos.

28.06.12

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