LEMBRANÇAS DE SÃO ANDRES DE TEIXIDO
O Momento de Luz retrata as impressões de um amigo espírita a um local de adoração que une, de forma única, a fé e a natureza.
Embarquem nesta sensibilidade, deixando que a natureza, somada às construções físicas e psicológicas do homem, brilhe em nossos corações.
Que tenhamos um dia de muita fé.
LEMBRANÇAS DE SÃO ANDRES DE TEIXIDO
Daquela imponente montanha, divisava-se um belo horizonte azul de águas calmas, ondas do bonito mar acariciavam as pedras, escondendo de nós toda uma abundante fonte de vida que a natureza lhe proporcionou.
A brisa do dia, aquecida pelo sol de primavera, saciava-nos de energia revigorante. Contudo, “chocava” no seio da natureza a violência que nos esperaria na noite vindoura.
Os potros e gado selvagem que ali pastavam, saltitavam alegres ante aquela brisa, como se dela saísse sua fonte da vida.
Em suas cabeleiras o acariciante sopro que, ao anoitecer, se transformaria, nos impondo medo, embrutecia a paisagem, dando-lhe ares pré-históricos.
Os caminhos escarpados de tortuosas descidas conduziam os penitentes de todas as idades. Era chocante ver jovens, mulheres e idosos, descendo as encostas de joelhos ou carregando promessas das mais variadas.
A rara montanha, com suas raízes fincadas nas profundas águas, parece invernada por toda a eternidade. Em sua imponência, freia as ondas avassaladoras das noites violentas. Elas tentam destruí-la, por cortar-lhe a passagem, em seus momentos de fúria.
Ao anoitecer, uivando por entre os álamos e pinheirais, a ventania que vinha triste, nos transmitia, ao mesmo tempo, piedade e medo, como se a presença dos que ali estavam fosse violar aquele santuário de Deus.
O seu relincho era intrépido, como querendo demarcar seu território, invadido por estranhos delinqüindo em suas paragens. Intrépidos também eram os potros selvagens que ali pastavam, ao mesmo tempo alegres e furiosos.
Era de uma violência calma, amedrontava-nos sem, no entanto, impor-nos qualquer dano físico. Nossas mentes divagavam naquela escuridade uivante, como pecadores nos umbrais de suas consciências.
Do alto da montanha admirávamos, perto do mar, “O SANTUÁRIO”. Parecia atemporal com suas paredes de pedra e telhado de pizarra a guardar segredos mil, de centenas de anos. Mulheres de joelhos adentravam o santuário de maneira solene.
Outras, com promessas das mais variadas, curvavam-se, como a pedir clemência a Deus, pagando, assim, as graças que Este, virtualmente, lhes havia concedido, em seus momentos de angustia durante seus sofridos anos passados.
Abaixo do templo, serpenteando um típico caminho aldeão, como saído das raízes do sagrado santuário, emanava um alegre e fértil manancial de água potável, de tal maneira refrescante, que acariciava. Parecia feito para lavar as chagas dos penitentes após a incansável descida pôr tortuosas passagens de pedras e toxos rudes.
Os penitentes apareciam com as carnes dilaceradas, imprimindo marcas profundas no espírito das almas sofredoras.
Ao cair da noite, por falta de acomodações, cada grupo diverte-se, cantando e ao toque de pandeiros. Outros se acolhem aos seus ônibus, contando anedotas, na espera do sono reparador.
Na alvorada do novo dia, todos cansados, muitos sem dormir, preparam-se para a viagem de regresso as suas aldeias.
ACA