MEMÓRIAS E APRENDIZADO

27/01/2014 08:23

Calma e paciência, virtudes que Gregório continua buscando. E mais uma vez, compartilhando de suas experiências, nos mostra a importância das mesmas na nossa trajetória.

Virtudes que nos equilibram. Que nos fazem parar diante das vicissitudes e refletir. Enxergar longe e encontrar novos caminhos. E você já as conquistou? Elas fazem parte de sua vida?

Não é fácil cultivá-las, mas não é impossível. Acredito que as encontraremos e as perderemos em muitos momentos da vida. O importante é continuar tentando permanecer, o maior tempo possível, com elas, pois seus benefícios, nós já conhecemos.

Boa leitura! Excelente semana!

Andréa

 

 

MEMÓRIAS E APRENDIZADO

 

- A impressão que tive foi que seria abandonada a qualquer momento. Simplesmente, deixada para trás como um objeto qualquer. Apavorei-me. Saí perambulando sem rumo, sem direção alguma.

- Andei por longas horas e, cambaleado, cheguei ao meu destino final. Um casebre no meio do nada. Construído de ripas de madeira, pintado de branco. Sujo, parecia fétido, mas fora o que encontrei.

- Encaminhei para mais perto. Não era tão ruim como parecia. Bati palmas. Ninguém apareceu. Toquei na porta e ela se abriu. Entrei, chamando por alguém. Não havia ninguém além de mim. Estava só.

- Procurei por alimento. Comi os restos de pão que encontrei. Estavam duros, mas saciaram minha fome. Bebi água do pote de cerâmica, sentei numa velha cadeira de balanço. Adormeci.

Estas foram as lembranças que tive sobre uma vida passada. Era uma mulher franzina, envelhecida pela dureza do tempo. Magra e sofrida, buscando um novo caminho. Pelo menos esta foi à sensação que tive.

As lembranças vieram de forma espontânea, numa manhã de domingo. Mas não tornaram a vim. Não consegui mais detalhes. Então, ansioso, procurei o amigo de todas as horas.

Claus estava a lecionar. Envolvera-se em um projeto educativo de três meses. Convidou-me a participar, mas já havia me comprometido com Salomão, com as pesquisas sobre o envelhecimento. Assunto que me chamava à atenção.

No intervalo, pôde estar comigo. Foi uma conversa rápida, pois precisava retornar ao grupo de ensino. Ouviu-me, atento. Acalmou-me, explicando que, às vezes, era comum vir à tona outra experiência vivida. Deveria ser algo que precisava rever.

Pediu que eu tivesse paciência. Encaminhou-me para a biblioteca e me sugeriu livros para ler. Olhos arregalados, demonstrei minha impaciência. Conhecia-me bem. Sabia como seria penoso. Gostava de diálogos, quando na angustia por respostas. A leitura era um prazer. A pesquisa uma necessidade. Mas, quando queria respostas urgentes, gostava de palavras.

Sorriso de sempre, despediu-se, retornado ás suas atividades. Só me restou o caminho da leitura. Desmarquei com Salomão aquela tarde e parti em busca do conhecimento.

Cheguei mal humorado. Isac, que me recebeu com alegria, identificou minha angustia. Companheiro e amigo de velhos tempos sabia que, em momentos assim, precisava ficar só. “- Você sabe o caminho”. E voltou aos seus afazeres.

A biblioteca era esplendorosa. Já falei sobre ela no início de nossas conversas. Era o lugar mais imponente da colônia. Não por ostentar luxo, mais por abrir portas para o conhecimento. Lá era possível encontrar um mundo de informações sobre muitos tempos e lugares distintos.

Era um lugar apaixonante. Meus olhos saltavam do rosto, cada vez que lá chegava, sentia vontade de devorar todo aquele tesouro. Acalmei-me. A raiva passou. A ansiedade deu lugar à esperança, que ressaltava o desejo de encontrar respostas e crescer.

Percorri toda ela, matando a saudade do tempo que ali trabalhei. Conhecia cada cantinho daquele enorme universo. Manuseei meus livros favoritos. Emocionei-me com aqueles que me trouxeram luz nos momentos de escuridão. Passei horas dedicando-me a nostalgia.

Procurei Isac e o abracei. Desculpei-me pela forma distante como cheguei e quis saber como ele estava. Há anos trabalhava lá. Ensinou- me tudo que sabia sobre aquele lugar. Questionei se estava feliz, se não desejava alçar novos voos.

Sorriu. - Este é o meu lugar. Aqui faço grandes viagens. Conheço várias pessoas e lugares, faço amigos. Tenho lindos encontros. Não saberia fazer outra coisa. Pediu licença e afastou-se. Um grupo acabara de chegar. Foi auxiliá-los.

Pensei em Isac.  Fiquei feliz e, ao mesmo tempo, triste. Era bom ver um amigo fazendo o que gosta. Dedicando sua vida ao que acreditava, mas... Melhor deixar para lá. Não devo questionar a vida de ninguém.

Pensei em mim. O que teria feito ali até hoje? Senti-me sufocar. Não suporto nem mesmo um pequeno pensamento de me ver preso em um só lugar. Sentir-me-ia regredir. Embora, rodeado de tanto conhecimento, necessitaria vivenciar o que aprendi. Por em prática cada descoberta.

Um aperto no peito me fez suar. Saí da alegria de estar naquele lugar mágico e entrei em choque com o que acreditava. Será que cresci longe daqui? Será que expandi minha consciência? Será que hoje sou alguém melhor?

Desperto pelo toque do amigo salvador, tranquilizei-me aos poucos.  – Calma e paciência, isso ainda não aprendeu, com certeza. Falou sorrindo. Sorriso que me contagiou. Sorrimos juntos.

Refeito, questionei o que fazia ali. Não estava em horário de aula?    – Nunca abandono um amigo que precisa de minha ajuda. Hoje, contei com a ajuda de Samuel. A última fala era dele. Deixei a turma sob seus cuidados e vim acompanhá-lo na pesquisa. Encontrou os livros?

- Ainda não. Respondi. Mas faço uma ideia onde vou encontrá-los. Temos algumas opções na biblioteca: 1. Manusear as folhas de um livro, minha preferida, confesso. 2.Leitura digital e 3. Leitura holográfica.

Quando cheguei aqui, vindo de um tempo passado, onde a imprensa escrita ainda era uma descoberta de pouco tempo, deslumbrei-me com as tecnologias. Mas com o tempo, percebi que nada substitui o prazer de folhear um livro.

Claus e eu compartilhávamos da mesma ideia. Logo, optamos pelos livros tradicionais. Embora, preciso dizer que o material que os constituía não era nada parecido com o que havia conhecido. Era resistente, possibilitava a higiene, não se desgastava com o tempo.

Mas vamos ao assunto que trouxe aqui. O primeiro livro indicado tratava-se de um tipo de enciclopédia que respondia rapidamente aos seus questionamentos, indicando os locais onde deveria pesquisar.

Passamos o resto da tarde selecionando o que queríamos ler e anotando. Entendem agora porque fiquei agoniado. Resolvemos que leríamos em média vinte volumes.

E pelo adiantar da hora, nos ocupamos em construir um cronograma para o processo. Não queríamos perder o momento de oração que iniciaria em breve.

Precisarei deixa-los, pois, assim como na biblioteca, dei vazão as minhas lembranças e não percebi o adiantar da hora. Em breve, estaremos juntos novamente.

Abraço afetuoso.

Gregório

26.01.14

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