NEGANDO-SE A VIVER
A poesia de hoje nos convida à reflexão de que é importante não passar pelo tempo sem labor e emoção.
Devemos deixar a nossa postura sofrida, em que fixamos o amor o amor no lamento, sem grande colaboração para a vida e a consciência que pulsa dentro de nós.
Que tal darmos voz e emoção para aquilo que já somos?
Uma ótima semana para todos.
NEGANDO-SE A VIVER
Não pude dar tempo ao tempo
Porque o tempo me faltava
Deixei passar o lamento
Porque este me sobrava
Não pude pegar a rosa
Que seu espinho furava
Mas com ela tive prosa
Sua beleza me extasiava
Não pude cruzar o rio
Na cachoeira ligeira
Para não ferir meu brio
Observei da sua beira
Não pude amar com amor
O lírio fresco e cheiroso
Com medo do dissabor
De velo em leito lodoso
Não rezei prece sentida
Diante da mazela alheia
Perdi um pouco da vida
Não colhe, pois não semeia
Não prestei muita atenção
Na semente renovada
Mas não tive a emoção
De revê-la, germinada
Não pude descer no mar
E ver a perola, preciosa
Não pôde ela mostrar
Como é radiante e formosa
Não quis subir a montanha
No monte escorregadio
Não pude ver terra estranha
Floresta, rio e lavradio
Enfim, passei pelo tempo
Sem labor e emoção
Fixei o amor no lamento
Sem grande colaboração
Por isso quando me chama
A voz interna no peito
Sinto falta de minha chama
Que apaga triste no leito.
ACA