NO BRINCAR, A POSSIBILIDADE DO APRENDER
No mês que dedicamos às crianças, Gregório nos traz o aprender através do brincar. Retoma a atividade de vendar os olhos e descrever o mundo, para que o outro o veja a partir do seu olhar, a fim de aprofundar as reflexões propostas no dia 30.09, no Momento de Luz.
Tal como criança, nos convida a descobrir o novo, partindo de uma aventura que se inicia dentro de nós mesmos e que se expande para fora, para o outro, levando-nos ao aprendizado.
Acordemos nossa criança interior, para que dela possamos acessar nosso lado aventureiro e corajoso que anseia pelo conhecer e o crescer.
Boa leitura!
Andréa
NO BRINCAR, A POSSIBILIDADE DO APRENDER
Já é hora de esclarecer sobre o grupo que, no jardim, encontrei a brincar. E que, através do que me pareceu um simples brincar, trouxe-me grandes lições, por me fazer refletir sobre quem sou, como me mostro, como enxergo a mim e ao outro e se tenho respeitado todas estas trajetórias.
A suavidade do dia transformou-se. A atmosfera ficou pesada ao perceber que nada sabia sobre os questionamentos listados acima. O que me fez parar e mergulhar sobre meus velhos saberes e rapidamente, diante de tantos desconhecidos, envolver-me comigo mesmo.
Não foi uma tarefa fácil. E somente depois, pude compreender o porquê daquela caminhada, sem proposito aparente, que me levou diretamente ao encontro daquele grupo.
Tratava-se de um grupo de estudo que, facilitado pelo jovem que me recebeu, fazia uma atividade prática externa, para contribuir com os estudos teóricos apresentados e discutidos naquela manhã.
Eu que, aparentemente desavisado, vi-me entregue a uma tarefa tão minuciosa, que, ao meu ver, necessitaria de uma preparação previa para minha participação.
Senti-me desprovido de intelecto, para tamanha reflexão. Porém, hoje, percebo que me faltava era preparação emocional e psicológica para enfrentar o temor de enxergar a mim mesmo e ao outro.
Fora uma tentativa ousada de meu cuidador para me fazer refletir sobre minhas condutas. Achou, disse-me depois, que eu estava preparado para aquele embate, mas como não tinha coragem de fazê-lo, ele proporcionou uma possibilidade.
Assim, agem os mentores. Criam possibilidade para que possamos por em prática aquilo que necessitamos aprender, para que possamos fluir por novos conhecimentos.
Por muitas vezes, barramos nosso caminhar. Fechado em nós, com medo de crescer, acreditamos que estamos despreparados, mas a verdade é que tememos o sofrer.
Centrado em minhas verdades. Encolhidos em meus saberes. Não me permitiria avançar pelos caminhos que agora caminho, sem o incentivo amoroso daqueles que prezam nosso evoluir, confiando que sempre podemos chegar mais longe. É preciso confiar em nós e neles.
O grupo era formado por jovens recém-chegados da vida material. Bem! Um recente que significava alguns anos. É que se demora, às vezes, pois que tudo é relativo, o se reconhecer em outro patamar da vida.
Alguns de nós passam anos até reconhecerem-se espíritos. No se descobrir do outro lado da vida, desconsideram o que veem e sentem, pois tem enraizado dentro de si conceitos aprendidos por toda uma existência.
Acreditam estarem sendo enganados e presos contra sua própria vontade. Aprisionados, sem direito de escolha, perturbam-se, desorganizando-se e precisam ser adormecidos, pois sentem as dores que trouxeram consigo, não conseguindo dissipá-las.
Sofridos e amargurados depuram-se, sem compaixão. Escondem culpas e angustias que não os permitem abandonar o que os afligem para entregassem ao novo que os convidam.
Quando mais cientes de como agora são e de onde estão, são encaminhados aos estudos para o aprimoramento dos novos ideais apresentados.
Tarefa difícil de ser realizada. Espíritos mais experientes trazem a tona experiências vividas no passado longínquo, para assemelharem-se aos aprendizes e poderem transmitir que é possível um novo ser, um novo sentir e pensar, para um novo fazer.
Acreditam que pelo exemplo é mais fácil acessá-los e transmite-lhes conhecimento. E que através de exercícios práticos visualizam e põem em ação o que foi aprendido, incorporando os novos saberes.
Tal como crianças, naquele meio de manhã, podemos absorver que o ser se faz a partir da construção de si mesmo, observando-se e autoconhecendo-se. E que, embora ao conviver com o outro façamos de seu olhar o nosso olhar, não saberemos entende-los se não for a partir de nós mesmos.
Deixei-os confuso? Retomarei de onde parei no último encontro.
Ao término do meu testemunho, o facilitador, já o posso apresenta-lo assim. Trouxe para análise do grupo a seguinte afirmação. “Através do seu olhar pude ver através do meu olhar o que continha o mundo”. Entreolhamo-nos.
- Como assim? O exercício não era compreender o mundo através do olhar do outro? Onde eu entro? Perguntou uma ruivinha, que sempre calada, motivou-se a falar.
Como ninguém se atrevera a comentar, retomou a fala, provocando-nos.
- Ao ouvir uma descrição, quando de olho fechado, sem poder enxergar por nós mesmos, levamos a nossa mente a imagem descrita pelo companheiro que estava a enxergar, porém quem pode afirmar que o tom do azul do céu descrito pelo locutor fora o mesmo captado pelo ouvinte?
Burburinhos invadiram o silêncio. (Questionavam-se uns aos outros.) Até que foi crescendo e tornando-se um grande ruído, que tomou conta do ambiente. Falávamos todos ao mesmo tempo. Ansiosos por derrubar a afirmação que com a qual não concordávamos.
- Eu o descrevi com tamanha riqueza de detalhes. Não podem, vocês, ter visualizado uma vírgula diferente do que relatei.
- Talvez alguém tenha esquecido um mínimo detalhe causando duvida no ouvinte.
- Só se foi você. Lembro-me até que, quando me descreveu o sol, não pude enxergar as pontes de luz que iam e vinham. Isso é ridículo, a luz sai do sol e não volta para ele, pois foi usada por nós.
O facilitador nos interrompeu, pedindo que o jovem que acabara de falar repetisse sua fala. Olhos entreabertos, repetimos todos, com voz ritmada, o que foi dito, pela terceira vez.
Ele retomou a fala, clareando o que parecia ser incompreendido e acabara de se revela diante de nós. – O que você achou ridículo e incompreensível não pôde visualizar. O seu saber fez o crivo do saber do outro, e escolheu não reconhecer como uma verdade.
- Assim agimos o tempo todo. Nada passa por nós sem ser analisado pelo que somos. Até mesmo o desconhecido depende de nós para ser reconhecido e conceituado.
- Partimos de quem somos, do que acreditamos, da cultura que nos foi apresentada, das experiências que vivenciamos para construir a maneira pela qual escolhemos ver a vida.
- Só acreditamos e absorvemos o que queremos acreditar e absorver, e da forma que queremos fazê-lo. Não importa o dizer do outro, se não estivermos dispostos a ouvi-lo.
- Isso nos serve de lição, não só para respeitarmos um o saber e o dizer do outro, mas também, para imprimir a responsabilidade de nossas escolhas. Não transferindo para o outro aquilo que absorvemos deles e traçamos nas nossas vidas, quando resultou em algo desastroso.
- Diante do livre-arbítrio cabe a escolha. Diante da escolha a responsabilidade e aceitação das consequências a que as mesmas nos levarão. Não cabendo ao outro toda responsabilidade por nossos atos, pois, embora possamos ser manipulados, sempre há permissão para que ela ocorra.
Voltemos na próxima semana ao assunto e aprofundemos nossas reflexões.
Abraço afetuoso,
Gregório
14.10.13