O SANTO DESILUDIDO

12/11/2010 17:30

O Momento de Luz desta sexta faz uma reflexão sobre a AÇÃO. Nos lembra que o ser humano só tem sentido com a existência do RELACIONAMENTO, do interagir com o outro, com os animais, com o planeta. Qualifiquemos, portanto, este interação.

Um forte abraço e bom final de semana a todos.

 

O SANTO DESILUDIDO

 

Inclinara-se a palestra, no lar humilde de Cafarnaum, para os assuntos alusivos à devoção, quando o Mestre narrou com significativo tom de voz: — Um venerado devoto retirou-se, em definitivo, para uma gruta isolada, em plena floresta, a pretexto de servir a Deus.


Ali vivia, entre orações e pensamentos que julgava irrepreensíveis, e o povo, crendo tratar-se de um santo messias, passou a reverenciá-lo com intraduzível respeito.


Se alguém pretendia efetuar qualquer negócio do mundo, dava-se pressa em buscar-lhe o parecer.


Fascinado pela alheia consideração, o crente, estagnado na adoração sem trabalho, supunha dever situar toda gente em seu modo de ser, com a respeitável desculpa de conquistar o paraíso.


Se um homem ativo e de boa-fé lhe trazia à apreciação algum plano de serviço comercial, ponderava, escandalizado: — É um erro.

Apague a sede de lucro que lhe ferve nas veias.

Isto é ambição criminosa.

Venha orar e esquecer a cobiça.


Se esse ou aquele jovem lhe rogava opinião sobre o casamento, clamava, aflito: — É disparate.

A carne está submetendo o seu espírito.

Isto é luxúria.

Venha orar e consumir o pecado.


Quando um ou outro companheiro lhe implorava conselho acerca de algum elevado encargo, na administração pública, exclamava, compungido: — É um desastre.
Afaste-se da paixão pelo poder.

Isto é vaidade e orgulho.

Venha orar e vencer os maus pensamentos.


Surgindo pessoa de bons propósitos, reclamando-lhe a opinião quanto a alguma festa de fraternidade em projeto, objetava, irritadiço: — É uma calamidade.
O júbilo do povo é desregramento.

Fuja à desordem.

Venha orar subtraindo-se à tentação.


E assim, cada consulente, em vista da imensa autoridade que o santo desfrutava, se entristecia de maneira irremediável e passava a partilhar-lhe os ócios na soledade, em absoluta paralisia da alma.

 

 


O tempo, todavia, que todo transforma, trouxe ao preguiçoso adorador a morte do corpo físico.


Todos os seguidores dele o julgaram arrebatado ao Céu e ele mesmo acreditou que, do sepulcro, seguiria direto ao paraíso.


Com inexcedível assombro, porém, foi conduzido por forças das trevas a terrível purgatório de assassinos.


Em pranto desesperado indagou, à vista de semelhante e inesperada aflição, dos motivos que lhe haviam sitiado o espírito em tão pavoroso e infernal torvelinho, sendo esclarecido que, se não fora homicida vulgar na Terra, era ali identificado como matador da coragem e da esperança em centenas de irmãos em humanidade.


Silenciou Jesus, mas João, muito admirado, considerou: — Mestre, jamais poderia supor que a devoção excessiva conduzisse alguém a infortúnio tão grande! O Cristo, porém, respondeu, imperturbável: — Plantemos a crença e a confiança entre os homens, entendendo, entretanto, que cada criatura tem o caminho que lhe é próprio.


A fé sem obras é uma lâmpada apagada.


Nunca nos esqueçamos de que o ato de desanimar os outros, nas santas aventuras do bem, é um dos maiores pecados diante do Poderoso e Compassivo Senhor.

 

pelo Espírito Neio Lúcio - Do Livro: Jesus no Lar, Médium: Francisco Cândido Xavier

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