SAUDADE DA VIDA LIVRE
Depois de 15 dias de merecidas férias, o Momento de Luz volta, e trata de Saudade.
Saudade de uma vida mais livre, de uma vida mais criança, mais campo, mais pura.
Que a poesia de hoje seja uma conexão com a natureza que há dentro de cada um de nós.
SAUDADE DA VIDA LIVRE
Que saudade da vida livre
Dos dias da minha infância
Sentir, do mato, as fragrâncias
No despertar das manhãs.
As brisas pela campina
Refrescava muitas flores
Dispersando os aromas
Das flores dos laranjais.
O cuco cantando cedo
Nos dias de primavera
Nos carvalhos entre eras
O “gayo” fazia o ninho.
Ao lado das mimosas
Raposa cuida filhotes
Entre “fentos e merotes”
Na beirada do caminho.
Ai! Que saudades que tenho
Das amoras da Silveira
Desde minha vez primeira
Que degustei seu sabor.
Driblando seus espinhos
Junto do ninho da melra
Dentro da pequena selva
Junto ao sabugueiro em flor.
Livre pelos matagais
Buscando mimosos ninhos
Para ver os passarinhos
Na sua cama acolchoada.
Nas ladeiras da montanha
Junto de alegres regatos
Esgueirando pelos matos
Nos dias de trovoada.
Que saudade da floresta
De carvalhos e pinheiros
Junto do rio, os salgueiros
Num mundo de fantasia.
Quando vinha o por do sol
E a noite se apresentava
O céu era minha amada
Ate raiar de um novo dia.
Como eram belos os campos
Andados na minha infância
Era um mundo de fragrância
De muitas vidas um lar.
Borboletas pelas matas
Grilos cantando na relva
Dentro da pequena selva
Os passarinhos a cantar
Que doce que a vida era
Sentado a beira do rio
Ouvindo das aves o pio
Água passando a bailar.
No céu um manto azul
Pelo chão, campos de flor
Como um ninho de amor
Era, da vida, um sonhar.
Naqueles tempos difíceis
Trepava a colher as frutas
No rio a pegar as trutas
No forno a pegar o pão.
Pelos caminhos de pedra
Como andarilho perdido
Fugia bem escondido
Junto com o meu irmão.
As cerejas dos vizinhos
Eram manjares de Deus
Quase chegava aos céus
Subindo por tronco imenso.
Porque as cerejas divinas
Davam na ponta dos ramos
Muitas vezes as pegamos
Ficando no ar suspensos.
Muitas vezes vi o lobo
Fazendo cara de mau
Na arvore, o pica-pau
Construindo seu cantinho.
Rolinha fazendo casa
Era uma vida campestre
Naquele mundo rupestre
Todo mato tinha ninho.
Quantas lembranças da casa
Dos tempos da juventude
Sempre em alegre atitude
Diante do sol e do vento.
Que Sacudia as ramagens
Como flâmula e bandeira
Chorando na carvalheira
Como trompete em lamento
Bebendo de fonte fresca
Junto da poça das rãs
Seu canto pelas manhãs
Era uma orquestra divina.
Deitado em fresca relva
Junto de cardos e flores
Vendo passar os pastores
Nos caminhos da campina.
Nas tardes de primavera
O sol acariciando a pele
Da paisagem se despede
Das flores e castanhal.
Aos poucos chegava a lua
E as estrelas brilhando
Grilos e anuros cantando
Por dentro do milharal.
ACA