SAUDADE DA VIDA LIVRE

20/10/2014 08:49

Depois de 15 dias de merecidas férias, o Momento de Luz volta, e trata de Saudade.

Saudade de uma vida mais livre, de uma vida mais criança, mais campo, mais pura.

Que a poesia de hoje seja uma conexão com a natureza que há dentro de cada um de nós.

 

 

SAUDADE DA VIDA LIVRE

 

Que saudade da vida livre

Dos dias da minha infância

Sentir, do mato, as fragrâncias

No despertar das manhãs.

As brisas pela campina

Refrescava muitas flores

Dispersando os aromas

Das flores dos laranjais.

 

O cuco cantando cedo

Nos dias de primavera

Nos carvalhos entre eras

O “gayo” fazia o ninho.

Ao lado das mimosas

Raposa cuida filhotes

Entre “fentos e merotes”

Na beirada do caminho.

 

Ai! Que saudades que tenho

Das amoras da Silveira

Desde minha vez primeira

Que degustei seu sabor.

Driblando seus espinhos

Junto do ninho da melra

Dentro da pequena selva

Junto ao sabugueiro em flor.

 

Livre pelos matagais

Buscando mimosos ninhos

Para ver os passarinhos

Na sua cama acolchoada.

Nas ladeiras da montanha

Junto de alegres regatos

Esgueirando pelos matos

Nos dias de trovoada.

 

Que saudade da floresta

De carvalhos e pinheiros

Junto do rio, os salgueiros

Num mundo de fantasia.

Quando vinha o por do sol

E a noite se apresentava

O céu era minha amada

Ate raiar de um novo dia.

 

Como eram belos os campos

Andados na minha infância

Era um mundo de fragrância

De muitas vidas um lar.

Borboletas pelas matas

Grilos cantando na relva

Dentro da pequena selva

Os passarinhos a cantar

 

Que doce que a vida era

Sentado a beira do rio

Ouvindo das aves o pio

Água passando a bailar.

No céu um manto azul

Pelo chão, campos de flor

Como um ninho de amor

Era, da vida, um sonhar.

 

Naqueles tempos difíceis

Trepava a colher as frutas

No rio a pegar as trutas

No forno a pegar o pão.

Pelos caminhos de pedra

Como andarilho perdido

Fugia bem escondido

Junto com o meu irmão.

 

As cerejas dos vizinhos

Eram manjares de Deus

Quase chegava aos céus

Subindo por tronco imenso.

Porque as cerejas divinas

Davam na ponta dos ramos

Muitas vezes as pegamos

Ficando no ar suspensos.

 

Muitas vezes vi o lobo

Fazendo cara de mau

Na arvore, o pica-pau

Construindo seu cantinho.

Rolinha fazendo casa

Era uma vida campestre

Naquele mundo rupestre

Todo mato tinha ninho.

 

Quantas lembranças da casa

Dos tempos da juventude

Sempre em alegre atitude

Diante do sol e do vento.

Que Sacudia as ramagens

Como flâmula e bandeira

Chorando na carvalheira

Como trompete em lamento

 

Bebendo de fonte fresca

Junto da poça das rãs

Seu canto pelas manhãs

Era uma orquestra divina.

Deitado em fresca relva

Junto de cardos e flores

Vendo passar os pastores

Nos caminhos da campina.

 

Nas tardes de primavera

O sol acariciando a pele

Da paisagem se despede

Das flores e castanhal.

Aos poucos chegava a lua

E as estrelas brilhando

Grilos e anuros cantando

Por dentro do milharal.

 

ACA

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