SÓ RESTA A PRECE
A poesia de hoje fala do sofrimento dos menos favorecidos, tratando, ainda da capacidade de superar os desafios com a fé a prece.
Que sirva de estímulo para trabalharmos constantemente na melhora de um mundo onde a fome não tenha mais vez.
Ótima semana para todos.
SÓ RESTA A PRECE
Chora o menino na noite
Da dor da fome e da sede
Do chão de barro na pele.
Tremor do frio e do medo
Aconchegado à mãezinha
Roçando pele com pele.
O fogaréu de barro cru
No canto triste da sala
Mais parecendo senzala.
As paredes de sapé
Cobertas descoloridas
Com o telhado de palha.
No canto sobre a lareira
Uma panela amassada
Cheia de quase nada
Tudo que dá no sertão
Morcego chupando sangue
Como soturno ladrão.
A mulher nina seu filho
Para acalmar suas dores
Ela também tem tremores
De desespero e amor
Porque a desgraça sentida
Murcha a mais sublime flor.
Canta canções da cuca
Do gato no saco e saci
Até o garoto ir dormir
Criando sua fantasia
Que a desgraça de hoje
Seja fartura algum dia.
No despertar do sertão
O sol queimando a terra
Sem futuro e compaixão.
A pele colada ao osso
A barriga na coluna
Fogo saindo do chão.
Quanta tristeza derrama
O silêncio da desgraça
Que o céu não compadece.
No calor ou frio intenso
Neste chão tão inclemente
Só resta, ao pobre, a prece.
ACA