UM DIA DE PRIMAVERA
O Momentos de Luz adianta um pouco o tempo para propor vivermos a primavera um pouco mais cedo.
Levada como um sentimento interno, o poeta nos convida, pela primavera, a trazer vida, sem adeus nem despedida, somente vontade de viver.
Que tenhamos uma semana de primavera.
UM DIA DE PRIMAVERA
Naquele dia que sorria a primavera
Minha vida construída na tapera
As andorinhas passeando pelo ar.
Na sombra debaixo de meu carvalho
Que o sol atravessava com seus raios
E a neblina no baile como um mar.
Deixava que os raios me aquecessem
E a malta da casa me esquecesse
Para ver os passarinhos revoar.
Traziam materiais para seus canteiros
E cosiam como nobres costureiros
Os seus ninhos para mais tarde procriar
As abelhas passeando pelas flores
Recolher pólen, atraídas pelas cores
Eram beijos de amor de espantar.
Uns zuniam e os outros gorjeavam
Harmonias da vida que encantavam
À doçura infantil do meu olhar.
As gotinhas dos restos do inverno
Pareciam, dos Céus, lágrima terna
Como chamando a vida adormecida.
As gramíneas já fizeram seus tapetes
Abraçando o chão com seus corpetes
Como se fora moçoila sem vestido.
As flores da primavera despertadas
Coloriam o mundo, salpicadas
Cada uma plantada num torrão.
Soltavam aos pouco suas pétalas
Mantendo formosura de estetas
Semeando arco-íris pelo chão.
As borboletas imitando passarinhos
Batendo suas assas nos caminhos
Em busca do néctar de uma flor.
Enfeitavam os mais bonitos canteiros
As matas densas de silvas e olmeiros
Espalhando sua graça e seu vigor.
A primavera reinventava novas vidas
As fragrâncias exaladas pelas divas
Da natureza de duendes e gnomos.
Era um mundo de cores e perfumes
Aquecido pelo sol ardendo em lumes
A mandar calor por todo cosmos.
A magia tomou conta do meu mundo
Embriagando o coração de amor fecundo
Enchendo o pensamento de ilusão.
De tanta vida que é fecundada na terra
As belezas que eu via desde a serra
Harmonia de orquestra em formação.
Ao longe o murmurar do ribeirinho
O piar após nascer dos passarinhos
Na casa construída no laranjal.
O desfile dos coelhos junto à estrada
Pelo céu do entardecer em revoada
Lavadeiras despedem o dia que se vai.
Vai chegando o cúmplice universo
Trazendo as estrelas em meus versos
E a lua que é dama da paixão.
A imensidão se transforma em pintura
E a lua desfilando quase nua
Orvalhando lagrimas da solidão.
Pelo Valle tocava orquestra estranha
A raposa reclamando na montanha
Como um choro de dor no coração.
A brisa uivava na floresta
Despertada sem querer da sua sesta
Era um mundo repleto de emoção.
Para mim tudo envolta era vida
Que não tinha adeus nem despedida
Somente vontade de viver.
Eram forças da terra em movimento
Que às vezes o homem desatento
Sofria, por não as compreender.
ACA