UMA NOITE NO UMBRAL

07/04/2011 07:19

Nesta Terça temos um belo relato no nosso Momento de Luz. Um passeio pelos níveis da dor e da assistência nos leva a diversas reflexões. Contudo, uma das principais é a de que podemos transformar ambientes, principalmente as nossas casas, em espaços de luz e de regeneração.

O convite ao auxílio e ao socorro daqueles que sofrem é constante e independe da localidade. Entender a prece e a caridade como instrumentos para o trabalho do bem é fundamental para a ausência de medo frente as dificuldades.

Um dia de caridade para todos.

 

 

 

UMA NOITE NO UMBRAL

 

 

Era uma noite escura no meu passeio em desdobramento, nos momentos de repouso físico.

Resvalavam meus pés, na beira dos abismos onde pisava tateando, enlameados de visgo produzido por dores do umbral.

Lastreava o meu corpo "pesado chumbo" de dúvidas e arrebatamentos, por lamentos perdidos nas esquinas da vida.

Alteavam-se as agonias e sofrimentos da minha alma, contaminada pela dor que, só, pressentia, mas que ainda assim conseguia dominar-me.

As águas que banhavam a vasta escuridão davam ao ambiente uma umidade sufocante, de pântano tropical.

Os sussurros da noite caminhavam pelo ar quase sólido do ambiente pútrido, exalando miasmas de nauseabundos odores.

Os gritos e gemidos alastravam-se como a ricochetear nas gotículas que salpicavam a noite amarga da escuridão impenetrável.

Abeiravam-se criaturas de disformes contornos que apenas sentia, sem que me tocassem ou conseguisse identificá-las.

Fria brisa envolvia meu corpo, arrepiando a alma. Sussurros penetrantes deixavam-me petrificado, como se todas as dores estivessem me circundando.   

Pouca a pouco, ao notar que por alguma mão ou invólucros invisível era protegido, consegui dominar a angustia e o medo,.

Seguindo em frente em infindável caminho, a passos trôpegos, foi-se instalando a autoconfiança que antes me abandonara.

Depois de muito caminhar, observava raros pontos de luminosidade. Assemelhavam-se a estrelas no firmamento de noite sem luar, que mais tarde descobri tratar-se de criaturas da luz.

A volta da autoconfiança retirou peso do meu ser, dando firmeza nos passos escorregadios, como se levitasse sem sair do chão.

Mais a frente, almas transformadas em feras tentavam cobrar pedágio de invasor invigilante que buscasse penetrar seus domínios.

A prece sentida, que brotava do coração através dos chacras, fazia o milagre da resplandecência protetora, ao tempo em que iluminava o caminho

Pouca a pouco, formas esquálidas de arvores retorcidas, como se fossem barreiras a separar dois mundos, iam divisando, em horizonte distante e trêmulo, mas, como se transmitissem a esperança de lugares mais aprazíveis à frente.

À medida que avançava, rareavam as formas densas de sombras, ficando para trás a escuridão mais densa. Ao mesmo tempo, aumentavam as criaturas de aspecto desnutridas e dementadas, vagando para lugar nenhum, pois, notavam-se perdidas em seus dramas mentais.

Mais a frente, já se podiam divisar pequenas cabanas, como moradias de palafitas, mas a alegria e a beleza ainda não faziam parte deste ambiente desolado. 

Pequenos arbustos de aspecto pré-histórico podiam ser vistos em volta de irregulares vielas pedregosas e lamacentas, enfeitando a tristeza dos espíritos degradados.

Ao longe, divisava-se modesta casa, de brilho diferenciado, luminosidade confortável, protegida por cerca viva de plantas luminosas, fazendo antever local aprazível e equilibrado, saturada por energias divinas de amorosidade e equilíbrio.

As criaturas que ali laboravam, estavam a serviço do Cristo e da vontade e compaixão dos desígnios de Deus. Acolhiam os arrependidos de suas vendetas, tratavam ferimentos e lepromas dos doentes que os visitavam ou eram resgatados por caravanas da luz.

A assepsia, a calma e leveza do ar desta casa de Jesus permitia suportar este ambiente insalubre, como se fosse uma ilha celeste num mundo de tempestades, frio e violências.

Enfermeiros atarefados desdobravam-se para atender a todos os pacientes em recuperação. As mais variadas feridas existiam, demandando por  profilaxia e remédios de uso tópico. Em outros, ainda desnorteados, eram-lhes ministrados, por trabalhadores avalizados, psicotrópicos e terapias energéticas.

A vida fluía sem muitos contratempos, mas com rigidez, nesta paragem inusitada. Sem tempo para lamentos, não era permitido o negativismo, sob pena de sucumbir e desfazer as proteções estabelecidas pela equipe da luz.

Assim radiou o dia sem que os trabalhos fossem interrompidos. Os trabalhadores eram substituídos para repouso necessário. O trabalho continuava, pois a dor não podia esperar e o reino da luz tinha pressa de resgatar os filhos extraviados. 

 

 

A.C.A

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