VIVÊNCIAS MEDIÚNICAS (32)

16/03/2011 23:27

Nesta quinta, Joana de Angelis aprofunda o tema “vazio existencial”, tratado na semana passada.

Preenchamos, portanto, o nosso ser com o conhecimento de, simplesmente, ser.

 

 

 

 

VIVÊNCIAS MEDIÚNICAS (32)

 

 

Dando continuidade ao tema proposto na semana anterior, vamos explorar aspectos mais profundos do “vazio existencial”, tão presente ainda em inúmeros espíritos, encarnados ou não, indiferente à idade, ao sexo ou à condição social.

Quantas pessoas conhecemos que nos dizem: - não sei o que fazer da  minha vida...., como que paradas no tempo, desmotivadas, solitárias, melancólicas ou indiferentes ao fluxo da vida que passa.

 

Busquei o auxílio da mestra Joanna de Angelis, que no livro “Amor Imbatível Amor”, trata dos aspectos psicológicos do ser humano, ampliados e multidimensionais, relacionando-os com os estágios evolutivos de cada ser, especialmente nos capítulos 21 a 23, A Busca do Sentido Existencial, O Vazio Existencial e  Necessidade de Objetivo.

Selecionei os trechos abaixo transcritos (grifos nossos) que me alargaram a compreensão e que partilho com voces, leitores. 

 

Existir significa ter vida, fazer parte do Universo, contribuir para a harmonia do Cosmos.

A existência humana é uma síntese de múltiplas experiências evolutivas, trabalhadas pelo tempo atra­vés de automatismos que se transformam em instintos e se transmudam nas elevadas expressões do sentimen­to e da razão.

À medida que os automatismos biológicos se con­vertem em impulsos dirigidos — ressalvados alguns que permanecerão sem a contribuição da consciência — o ser psicológico passa a sobressair, conduzindo, de iní­cio, a carga dos atavismos que deverão ser remaneja­dos, diluindo aqueles de natureza perturbadora e apri­morando aqueloutros que se transformarão em fontes de alegria, de prazer e de paz...

 

Simultaneamente, a razão abandona as brumas da ignorância que a entorpece — qual cascalho que envolve a gema preciosa — e se delineiam objetivos e sentido existencial.

Enquanto não surge essa ne­cessidade, o primarismo predomina, e o ser, não obstante em estágio de humanidade, apenas reage, sem saber agir, ambiciona sem discernir para que, agride ou deprime-se, por desconhecer o valor da luta saudável, sempre desafiadora para a conquista do progresso.

 

Somente então, surgem as interroga­ções que fazem parte da busca do sentido existenci­al:

a) para que viver?

b) por que lutar?

c) como desenvolver essa capacidade de perseverar até al­cançar a meta?

 

Viver bem — desfrutando dos recursos que a Natu­reza e a inteligência proporcionam — para bem viver — realizações internas com o desenvolvimento ético ade­quado, que proporcionam bem-estar interior —, eis a ra­zão por que lutar.

 

Tal conquista sempre se consegue mediante o es­forço da não aceitação comodista, partindo-se para a luta de crescimento pessoal e de transformação ambi­ental, que facultam a existência feliz.

O próprio esforço, na mínima realização vitoriosa, contribui para o favorecimento da capacidade de se prosseguir conquistando as metas que, ao serem alcan­çadas, oferecem outras novas, que podem proporcionar melhores condições de plenitude e de integração na Consciência Cósmica.

Cada etapa vencida, portanto, mais capacita o ser para as porvindouras que lhe cumpre conquistar.

 

Nesse processo de superação do primarismo, quan­do o Self adquire discernimento, se não houve um amadurecimento paulatino e cuidadoso, ocorrem, se­gundo Viktor Frankl, em seus estudos e aplicações lo­goterápicos, dois fenômenos que respondem pelo va­zio existencial: a perda de alguns instintos animais, básicos, que lhe davam segurança, e o desaparecimen­to das tradições que se diluem, e antes eram-lhe para­digmas de equilíbrio.

 

Diante disso, o indivíduo é obrigado a escolher, com discernimento para eleger, dando surgimento a outro tipo de instinto de sobrevivência para prosse­guir lutando.

 

Sem uma decisão clara, torna-se ins­trumento dos outros, agindo conforme as demais pes­soas, em atitude conformista, não reagindo aos im­positivos do meio, perdendo-se, sem motivação, ou se deixa conduzir pelos interesses do grupo, atuan­do conforme o mesmo, que lhe impõe comportamentos agressivos, anulando o seu interesse e alterando o seu campo de ação.

Naturalmente perde o contato com o Self para que sobreviva o ego, e assimilando o que é bem da época, assume os modismos e se despersonaliza.

 

Nesse vazio que surge, por falta de motivação real para prosseguir, foge para o alcoolismo, para as dro­gas, para o sexo ou tomba em depressão...

Noutras vezes, para ocultar essa lacuna na emoção -o vazio existencial- refugia-se em comportamentos impróprios, buscando o poder, a glória efêmera atra­vés dos quais chama a atenção, torna-se brilhante sob os focos de luz da fama, neurotizando-se.

 

Mui comumente surgem comentários no grupo social, a respeito de alguém que tem tudo — dinheiro, família, beleza, inteligência, poder — e, no entanto, pa­rece não ser feliz.  Sucede que esse tudo não preenche o vazio, fal­tando o sentido da vida, seu significado, sua razão de ser.

 

A tensão de novas buscas e a saturação que de­corre do conseguir, resultam em transtorno neuróti­co.

Com o tempo disponível e falta de objetivo, a úni­ca saída emocional é o mergulho na depressão.

 

Essa ocorrência é comum nas pessoas atuantes que param de agir abruptamente, por enfermidades, por aposen­tadoria, pelos feriados e períodos de férias, que lhes abrem as feridas existenciais do vazio.

A psicoterapia unida à logoterapia amenizam a si­tuação, propondo um sentido natural à existência, ob­jetivos duradouros, que exigem esforço, embora sejam compreensíveis as recaídas até a fixação dos novos va­lores.

 

A busca de um sentido existencial por parte do ser humano constitui-lhe uma força inata impulsionadora para o seu progresso.

Ao identificá-lo, torna-se-lhe o objetivo básico a ser conquistado, empenhando todos os recursos para a consecução da meta.

Trata-se de um sentido pessoal que ninguém pode oferecer, e que é particular a cada qual. Não pode ser elegido por outrem ou brindado, senão conseguido pelo próprio ser.

 

Jesus, ante a transitoriedade dos valores terrestres e a fugacidade do corpo, propôs a busca do reino de Deus e Sua justiça, elucidando que, após esta prima­zia tudo mais será acrescentado. Isto é, estabelecendo o mais importante — o sentido, o objetivo existencial —as demais aspirações se tornam secundárias e chega­rão naturalmente.

Esse reino de Deus encontra-se na consciência tran­qüila, que resulta do dever retamente cumprido, dos compromissos bem conduzidos, dos objetivos delinea­dos com acerto.

 

Essa busca de significado, de objetivo ou sentido não pode ser resultado de uma fé ancestral, isto é, de uma crença destituída de fatos, que se dilui ante difi­culdades, principalmente os conflitos internos, mas da luz da razão que se transforma em vontade de conse­guir uma vida mais expressiva, mais rica de conteúdo, de aspirações profundas e autênticas.

 

Um afeto familiar, um ideal em desenvolvimento, o lar, uma atividade dignificadora, o retorno a um ser­viço interrompido tornam-se, entre muitos outros, ob­jefivos que dão sentido à vida, favorecendo meios para se lutar.

Quando se tem o porquê viver, a forma de como viver até lograr o objetivo torna-se secundária. Esse im­pulso primário no ser, faz que supere os obstáculos e impedimentos com o pensamento no que conseguirá.

 

Somos de parecer que o sentido, o objetivo, o es­sencial, é a auto-superação das paixões, a auto-ilumi­nação para bem discernir o que se deve e se pode fazer, para harmonizar-se em si mesmo, em relação ao seu próximo e ao grupo social no qual se encontra, bem como à Vida, à Natureza, Deus...


Os princípios morais — alguns inatos ao ser huma­no — são indispensáveis. Não porém as imposições morais-sociais, geográficas, estabelecidas legalmente e logo desacreditadas. Mas aqueles que são inerentes, derivados do mais profundo e básico, que é o amor.

 

Respeitar a vida, amando-a, fomentar o progresso, tra­balhando, construir a felicidade, perseverando, não fazer a outrem o que não deseja que o mesmo lhe faça, eliminam a possibilidade de consciência de culpa, de conflito, e dão-lhe um padrão para o comportamento equilibrado, uma diretriz para a conduta sadia.

 

O ser atua moralmente, porque sente o impulso interno da vida que se submete às Leis que a regem. Essa força interior que o leva à prática dos atos cor­retos, o Bem, no início, é metafísica, pois procede do Psiquismo Causal, para depois tornar-se uma necessi­dade transformada em ações, portanto nos fatos que lhe confirmam a excelência.

 

Quando escasseiam esses princípios na mente e na emoção, o indivíduo, desestruturado, enferma e a mais eficaz solução é o amorterapia, impulsionando-o a per­mitir que desabrochem os sentimentos de fraternida­de, de solidariedade, de perdão, de auto-entrega, as­sim aparecendo significados para continuar-se a viver.

 

Muitos aposentados e idosos, depressivos diver­sos, que se neurotizaram, recuperam-se através do ser­viço ao próximo, da autodoação à comunidade, do la­bor em grupo, sem interesse pecuniário, reinventando razões e motivos para serem úteis, assim rompendo o refúgio sombrio da perda do sentido existencial.

 

Sem meta não se vive, obedece-se aos automatis­mos fisiológicos em perigoso crepúsculo psicológico, a um passo do suicídio.

Quando o ser se percebe atuante, produtivo, ne­cessário, vibra e produz.

Todo e qualquer contributo psicoterapêutico, logoterapêutico, há de considerar a autovalorização do paciente.

Jesus sintetizou-o, na resposta com que concluiu o diálogo com o sacerdote que o interrogara a respeito do reino dos céus: — Vai tu e faze o mesmo.”

 

Boa semana, com trabalho profícuo na construção de um “eu” mais consciente, aproximando cada vez mais o ego do self, e com muita PAZ para todos nós.

Francesca Freitas

16-03-2011

Facebook Twitter More...