VIVÊNCIAS MEDIÚNICAS (32)
Nesta quinta, Joana de Angelis aprofunda o tema “vazio existencial”, tratado na semana passada.
Preenchamos, portanto, o nosso ser com o conhecimento de, simplesmente, ser.
VIVÊNCIAS MEDIÚNICAS (32)
Dando continuidade ao tema proposto na semana anterior, vamos explorar aspectos mais profundos do “vazio existencial”, tão presente ainda em inúmeros espíritos, encarnados ou não, indiferente à idade, ao sexo ou à condição social.
Quantas pessoas conhecemos que nos dizem: - não sei o que fazer da minha vida...., como que paradas no tempo, desmotivadas, solitárias, melancólicas ou indiferentes ao fluxo da vida que passa.
Busquei o auxílio da mestra Joanna de Angelis, que no livro “Amor Imbatível Amor”, trata dos aspectos psicológicos do ser humano, ampliados e multidimensionais, relacionando-os com os estágios evolutivos de cada ser, especialmente nos capítulos 21 a 23, A Busca do Sentido Existencial, O Vazio Existencial e Necessidade de Objetivo.
Selecionei os trechos abaixo transcritos (grifos nossos) que me alargaram a compreensão e que partilho com voces, leitores.
“ Existir significa ter vida, fazer parte do Universo, contribuir para a harmonia do Cosmos.
A existência humana é uma síntese de múltiplas experiências evolutivas, trabalhadas pelo tempo através de automatismos que se transformam em instintos e se transmudam nas elevadas expressões do sentimento e da razão.
À medida que os automatismos biológicos se convertem em impulsos dirigidos — ressalvados alguns que permanecerão sem a contribuição da consciência — o ser psicológico passa a sobressair, conduzindo, de início, a carga dos atavismos que deverão ser remanejados, diluindo aqueles de natureza perturbadora e aprimorando aqueloutros que se transformarão em fontes de alegria, de prazer e de paz...
Simultaneamente, a razão abandona as brumas da ignorância que a entorpece — qual cascalho que envolve a gema preciosa — e se delineiam objetivos e sentido existencial.
Enquanto não surge essa necessidade, o primarismo predomina, e o ser, não obstante em estágio de humanidade, apenas reage, sem saber agir, ambiciona sem discernir para que, agride ou deprime-se, por desconhecer o valor da luta saudável, sempre desafiadora para a conquista do progresso.
Somente então, surgem as interrogações que fazem parte da busca do sentido existencial:
a) para que viver?
b) por que lutar?
c) como desenvolver essa capacidade de perseverar até alcançar a meta?
Viver bem — desfrutando dos recursos que a Natureza e a inteligência proporcionam — para bem viver — realizações internas com o desenvolvimento ético adequado, que proporcionam bem-estar interior —, eis a razão por que lutar.
Tal conquista sempre se consegue mediante o esforço da não aceitação comodista, partindo-se para a luta de crescimento pessoal e de transformação ambiental, que facultam a existência feliz.
O próprio esforço, na mínima realização vitoriosa, contribui para o favorecimento da capacidade de se prosseguir conquistando as metas que, ao serem alcançadas, oferecem outras novas, que podem proporcionar melhores condições de plenitude e de integração na Consciência Cósmica.
Cada etapa vencida, portanto, mais capacita o ser para as porvindouras que lhe cumpre conquistar.
Nesse processo de superação do primarismo, quando o Self adquire discernimento, se não houve um amadurecimento paulatino e cuidadoso, ocorrem, segundo Viktor Frankl, em seus estudos e aplicações logoterápicos, dois fenômenos que respondem pelo vazio existencial: a perda de alguns instintos animais, básicos, que lhe davam segurança, e o desaparecimento das tradições que se diluem, e antes eram-lhe paradigmas de equilíbrio.
Diante disso, o indivíduo é obrigado a escolher, com discernimento para eleger, dando surgimento a outro tipo de instinto de sobrevivência para prosseguir lutando.
Sem uma decisão clara, torna-se instrumento dos outros, agindo conforme as demais pessoas, em atitude conformista, não reagindo aos impositivos do meio, perdendo-se, sem motivação, ou se deixa conduzir pelos interesses do grupo, atuando conforme o mesmo, que lhe impõe comportamentos agressivos, anulando o seu interesse e alterando o seu campo de ação.
Naturalmente perde o contato com o Self para que sobreviva o ego, e assimilando o que é bem da época, assume os modismos e se despersonaliza.
Nesse vazio que surge, por falta de motivação real para prosseguir, foge para o alcoolismo, para as drogas, para o sexo ou tomba em depressão...
Noutras vezes, para ocultar essa lacuna na emoção -o vazio existencial- refugia-se em comportamentos impróprios, buscando o poder, a glória efêmera através dos quais chama a atenção, torna-se brilhante sob os focos de luz da fama, neurotizando-se.
Mui comumente surgem comentários no grupo social, a respeito de alguém que tem tudo — dinheiro, família, beleza, inteligência, poder — e, no entanto, parece não ser feliz. Sucede que esse tudo não preenche o vazio, faltando o sentido da vida, seu significado, sua razão de ser.
A tensão de novas buscas e a saturação que decorre do conseguir, resultam em transtorno neurótico.
Com o tempo disponível e falta de objetivo, a única saída emocional é o mergulho na depressão.
Essa ocorrência é comum nas pessoas atuantes que param de agir abruptamente, por enfermidades, por aposentadoria, pelos feriados e períodos de férias, que lhes abrem as feridas existenciais do vazio.
A psicoterapia unida à logoterapia amenizam a situação, propondo um sentido natural à existência, objetivos duradouros, que exigem esforço, embora sejam compreensíveis as recaídas até a fixação dos novos valores.
A busca de um sentido existencial por parte do ser humano constitui-lhe uma força inata impulsionadora para o seu progresso.
Ao identificá-lo, torna-se-lhe o objetivo básico a ser conquistado, empenhando todos os recursos para a consecução da meta.
Trata-se de um sentido pessoal que ninguém pode oferecer, e que é particular a cada qual. Não pode ser elegido por outrem ou brindado, senão conseguido pelo próprio ser.
Jesus, ante a transitoriedade dos valores terrestres e a fugacidade do corpo, propôs a busca do reino de Deus e Sua justiça, elucidando que, após esta primazia tudo mais será acrescentado. Isto é, estabelecendo o mais importante — o sentido, o objetivo existencial —as demais aspirações se tornam secundárias e chegarão naturalmente.
Esse reino de Deus encontra-se na consciência tranqüila, que resulta do dever retamente cumprido, dos compromissos bem conduzidos, dos objetivos delineados com acerto.
Essa busca de significado, de objetivo ou sentido não pode ser resultado de uma fé ancestral, isto é, de uma crença destituída de fatos, que se dilui ante dificuldades, principalmente os conflitos internos, mas da luz da razão que se transforma em vontade de conseguir uma vida mais expressiva, mais rica de conteúdo, de aspirações profundas e autênticas.
Um afeto familiar, um ideal em desenvolvimento, o lar, uma atividade dignificadora, o retorno a um serviço interrompido tornam-se, entre muitos outros, objefivos que dão sentido à vida, favorecendo meios para se lutar.
Quando se tem o porquê viver, a forma de como viver até lograr o objetivo torna-se secundária. Esse impulso primário no ser, faz que supere os obstáculos e impedimentos com o pensamento no que conseguirá.
Somos de parecer que o sentido, o objetivo, o essencial, é a auto-superação das paixões, a auto-iluminação para bem discernir o que se deve e se pode fazer, para harmonizar-se em si mesmo, em relação ao seu próximo e ao grupo social no qual se encontra, bem como à Vida, à Natureza, Deus...
Os princípios morais — alguns inatos ao ser humano — são indispensáveis. Não porém as imposições morais-sociais, geográficas, estabelecidas legalmente e logo desacreditadas. Mas aqueles que são inerentes, derivados do mais profundo e básico, que é o amor.
Respeitar a vida, amando-a, fomentar o progresso, trabalhando, construir a felicidade, perseverando, não fazer a outrem o que não deseja que o mesmo lhe faça, eliminam a possibilidade de consciência de culpa, de conflito, e dão-lhe um padrão para o comportamento equilibrado, uma diretriz para a conduta sadia.
O ser atua moralmente, porque sente o impulso interno da vida que se submete às Leis que a regem. Essa força interior que o leva à prática dos atos corretos, o Bem, no início, é metafísica, pois procede do Psiquismo Causal, para depois tornar-se uma necessidade transformada em ações, portanto nos fatos que lhe confirmam a excelência.
Quando escasseiam esses princípios na mente e na emoção, o indivíduo, desestruturado, enferma e a mais eficaz solução é o amorterapia, impulsionando-o a permitir que desabrochem os sentimentos de fraternidade, de solidariedade, de perdão, de auto-entrega, assim aparecendo significados para continuar-se a viver.
Muitos aposentados e idosos, depressivos diversos, que se neurotizaram, recuperam-se através do serviço ao próximo, da autodoação à comunidade, do labor em grupo, sem interesse pecuniário, reinventando razões e motivos para serem úteis, assim rompendo o refúgio sombrio da perda do sentido existencial.
Sem meta não se vive, obedece-se aos automatismos fisiológicos em perigoso crepúsculo psicológico, a um passo do suicídio.
Quando o ser se percebe atuante, produtivo, necessário, vibra e produz.
Todo e qualquer contributo psicoterapêutico, logoterapêutico, há de considerar a autovalorização do paciente.
Jesus sintetizou-o, na resposta com que concluiu o diálogo com o sacerdote que o interrogara a respeito do reino dos céus: — Vai tu e faze o mesmo.”
Boa semana, com trabalho profícuo na construção de um “eu” mais consciente, aproximando cada vez mais o ego do self, e com muita PAZ para todos nós.
Francesca Freitas
16-03-2011