VIVÊNCIAS MEDIÚNICAS (42)
Nesta quinta, o Momento de Luz, dando continuidade aos fatos narrados na semana passada, reflete o poder de nossas crenças, mais particularmente, daquelas que Leloup chama de inconsciente familiar e inconsciente coletivo.
Interessante perceber que as nossas crenças, sem maiores reflexões, podem deixar de ser instrumentos para o contato com o nosso Mestre Interior, o fundo do nosso SER, a nossa verdade.
Que o texto seja uma oportunidade de reflexão para todos, que provoquem perguntas como: O que há no fundo do nosso ser? Quem orienta meus desejos e pensamentos.
Um dia esplêndido a todos.
VIVÊNCIAS MEDIÚNICAS (42)
Retomando o texto da semana anterior, relato hoje a história sucinta do irmão conectado à frase bíblica do Gênese 3:19: “Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.”
Esse aprendizado foi colhido em desdobramento durante o sono, nas noites subsequentes ao atendimento. Como não sei o seu nome, peço licença para chamá-lo de João, apenas para facilitar a descrição dos eventos.
Sr. João era um espírito trabalhador, que desde cêdo lutou com o “suor do seu rosto” para o seu sustento. De origem relativamente humilde, teve pouca instrução, mas seus pais, que desencarnaram cêdo, costumavam ler para os filhos trechos da Bíblia, dos quais João fixou determinadas frases e pensamentos do antigo testamento, que passaram a pautar sua conduta ao longo da vida.
Sr. João não desenvolveu uma espiritualidade interior, tinha conceitos estreitos sobre o certo e errado, “de poucas palavras” e muito contido emocionalmente, extravasava no trabalho os incômodos afetivos e sensações desagradáveis que sentia, mas não se permitia maiores reflexões pessoais.
Seu relacionamento com as pessoas era estritamente ligado ao labor, ao senso do dever cumprido no negócio comercial, carente de afetividade, e preso em conceitos egoístas do tipo ”não empresto para não ter que cobrar ou não peço nada para não dever a ninguem”.
Com o envelhecimento, foi se fechando, como numa concha protetora, podando arroubos sensoriais, reprimindo-se cada vez mais numa solidão auto-imposta. Foi constuindo ao longo da vida uma couraça de desapego “à matéria e às sensações”, sempre se lembrando da frase gravada desde a infância.
Sua visão simplista da criação e destruição, pois “se houvesse um Deus, ele tinha o direito e o poder de criar e destruir”, a nada podia apegar-se, pois que “a morte chegaria e viraria pó.”
Eis que o desencarne súbito chega, e Sr. João aceita que mudou sua condição, “agora que estou morto, vou retornar ao pó do qual fui criado”.
Ao perceber a presença materna e de espíritos protetores, retomava a frase hipnótica e fechava-se psiquicamente a qualquer contato, inclusive até com espíritos desafetos de antigas encarnações. Quando percebia um espírito, dizia a sí mesmo, “não existe isto, estou inventando ou sonhando” e neste estado comatoso, auto-imposto, foi recolhido a uma instituição especializada no mundo espiritual.
Esse processo estava danificando suas células perispiríticas, pois que seu pensamento fixo desagregava seu modelo organizador biológico.
Com o passar do tempo e recebendo toda a ajuda possível nesse local, pode passar pela experiência narrada na semana passada, em que, desdobrado, revivenciou um “nascimento”.
Ao sentir conexão com os elementos terrestres, com o barro e água, vibrações de “vida”, deu vazão à sensações escamoteadas, e, sentindo-se como uma semente que desabrocha, conectou-se à natureza e ao aspecto de uma árvore.
A simbologia riquíssima da “arvore da vida” será retomada na próxima semana.
Encerro hoje transcrevendo alguns trechos do Capítulo 22 - de “Os Mensageiros”, de André Luiz, psicografado por Chico Xavier, intitulado Os que dormem:
“Conseguia distinguir, vagamente, os quadros interiores, observando que se tratava, a meu ver, de espaçosas enfermarias com teto sólido, mas semi-abertas ao longo das paredes altas, dando livre passagem ao ar.
Tudo isso me dava a impressão de haver penetrado um cemitério escuro, onde os visitantes fossem obrigados a guardar todo o respeito aos mortos. Estamos no centro dos pavilhões a que se recolhem irmãos ainda adormecidos. Temos aqui, presentemente, quase dois mil.
Recordando a literatura antiga, pensei nos velhos túmulos egípcios. Tínhamos, diante de nós, centenas de múmias perfeitas. Raríssimos pareciam dormir um sono natural.
Explicai-me, por Deus! que vemos aqui? Estamos, acaso, na moradia da morte, depois da morte?
— Sim, André, este sono é, verdadeiramente, avançada imagem da morte. Aqui permanecem, com a bênção do abrigo, alguns milhões dos nossos irmãos que ainda dormem. São as criaturas que nunca se entregaram ao bem ativo e renovador, em torno de si, e mormente os que acreditaram convictamente na morte, como sendo o nada, o fim de tudo, o sono eterno.
A crença na vida superior é atividade incessante da alma. A ferrugem ataca a enxada ociosa. O entorpecimento invade o Espírito vazio de ideal criador.
Os que, nos círculos carnais, homens e mulheres, crêem na vida eterna, ainda que não sejam fundamentalmente cristãos, estão desenvolvendo faculdades de movimentação espiritual e podem penetrar as esferas extraterrenas em estado animador, pelo menos quanto à locomoção e juízo mais ou menos exato.
No entanto, as criaturas que perseveram em negação deliberada e absoluta, não obstante, por vezes, filiadas a cultos externos de atividade religiosa, que nada vêem além da carne nem desejam qualquer conhecimento espiritual, são verdadeiramente infelizes.
Muitos penetram nossas regiões de serviço, como embriões de vida, na câmara da Natureza sempre divina.
Um amigo nosso costuma designá-los por fetos da espiritualidade; entretanto, a meu ver, seriam felizes se estivessem nessa condição inicial.
Dormem, porque estão magnetizados pelas próprias concepções negativistas; permanecem paralíticos, porque preferiram a rigidez ao entendimento; mas dia virá em que deverão levantar-se e pagar os débitos contraídos.
Eis porque os considero sofredores. Primeiramente, demoram no sono em que acreditaram, mais tarde acordam; porém, a maioria não pode fugir à enfermidade e à perturbação, como acontece aos irmãos dementados, que vimos inda há pouco.
A fé sincera é ginástica do Espírito. Quem não a exercitar de algum modo, na Terra, preferindo deliberadamente a negação injustificável, encontrar-se-á mais tarde sem movimento.
Semelhantes criaturas necessitam de sono, de profundo repouso, até que despertem para o exame das responsabilidades que a vida traduz.
— Cada um na vida, meu caro André, tem a necessidade que lhe é peculiar. Aqui, compreendemos com amplitude esse imperativo da Natureza.”
Muita PAZ para todos nós,
Francesca Freitas
25-05-2010