VIVÊNCIAS MEDIÚNICAS (51)
A vivência mediúnica nos convida ao conhecimento de nós mesmo, deixando claro que não devemos confundir informação com conteúdo. O conteúdo só é acessível na reflexão, no descanso, na pausa, enquanto que a informação nos absorve e depois se perde.
Então, reflitamos, meditemos as nossas atitudes e aprendamos com cada sofrimento indicador do nosso orgulho e egoísmo.
Muita paz para todos.
VIVÊNCIAS MEDIÚNICAS (51)
Hoje abordaremos acerca de alguns aspectos filosófico-morais do espiritismo, e do trabalho do pensamento dirigido e firme como agente transformador da consciência na reforma íntima.
Mas antes de adentrar nestes temas, farei algumas considerações que considero pertinentes, nesse depoimento-desabafo pessoal. No mundo meio caótico atual, onde é dada uma enorme importância ao fazer e construir materialmente, onde os compromissos sucedem-se de modo quase ininterrupto, sobra pouco tempo para a atividade reflexiva mais profunda.
Ouvi de alguns amigos queixas do tipo: - não há mais tempo para pensar!, ou: - tem que ter sempre uma resposta pronta!, e eu mesma, por vezes me surpreendo em momentos de culpa por não ter refletido adequadamente acerca de alguma questão. Nossos mentores estão a postos, e nos alertam para a construção de ideais mais elevados, e desde sempre agradeço aos que estão mais próximos a mim mesma pela paciência.
O pensar racionalmente deixando um espaço para a meditação, funciona inicialmente como um trabalho árduo e de difícil digestão sensorial, que é seguido de um pseudo intervalo calmo, onde a ideia e os pensamentos descansam, para trabalharem em outra dimensão. Esse descanso na consciência de vigília distraída, que pode levar horas ou dias, permite a integração e compreensão destes conteúdos, que aclarados retornam à consciência de modo explícito.
Por isso mesmo, cada vez mais admiro o trabalho árduo de Kardec, e de outros maravilhosos filósofos e grandes pensadores, encarnados ou não, que não construíram grandes maravilhas arquitetônicas ou máquinas, sem menosprezar os cientistas cientificistas. Os espíritos construtores e reformadores de ideias, são geniais!.
Atualizar conceitos e rever paradigmas pessoais e sociais, é muito mais difícil que ver um telejornal, de estar em dia com as novidades da net, de uma leitura fácil, do filme ou série divertidos. É no mergulho reflexivo e por vezes incômodo, que a transformação ocorre. Deixo a instantaneidade noticiosa como intervalo lúdico depois de uma “chamada” para afugentar a preguiça mental.
Estou neste desabafo porque desde ontem me surgiu o tema “O egoísmo e o orgulho”, nas Obras Póstumas de Allan Kardec, e aí, depois dessas elucidações, tive a compulsória tarefa reflexiva interna de atualizar à ambos, pois que os encontrei lá nas sombrinhas minhas.
Observo o quanto custou reunir tantos espíritos com ideias e conceitos próprios com os ideais mais superiores e universais.
Lembro que a França passara pelo Iluminismo, filosofia que defendia o pensamento racional contraposto a crenças religiosas e místicas, que, segundo eles, bloqueavam a evolução do homem. Indicavam o próprio homem a buscar respostas para as questões que, até então, eram justificadas somente pela fé.
Abrindo caminho ao cartesianismo, necessário no momento, houve um enorme distanciamento da fé e da razão. Daí, recebemos a dádiva do Espiritismo, que não é isoladamente nem filosofia, nem religião, nem ciência, é mais que isto, é um novo paradigma humano, evolutivo, e que considero pessoalmente de caráter transdisciplinar.
Mas, porque mesmo a humanidade e “eu” sofremos?
Seguem trechos de “O egoísmo e o orgulho”, intercalada por breves comentários e questões:
“Está bem reconhecido que a maioria das misérias humanas tem a sua fonte no egoísmo dos homens”
E é fato que faço parte dessa humanidade, mas estou livre do egoísmo?, me reconheço e observo no “egoistrômetro” interno como está meu grau atual?
“ Então, desde que cada um pensa em si, antes de pensar nos outros, e quer a sua própria satisfação antes de tudo, cada um procura, naturalmente, se proporcionar essa satisfação, a qualquer preço, e sacrifica, sem escrúpulo, os interesses de outrem, desde as menores coisas até as maiores, na ordem moral como na ordem material; daí todos os antagonismos sociais, todas as lutas, todos os conflitos e todas as misérias, porque cada um quer despojar o seu vizinho.”
Explicação onde se encaixam a corrupção social e política, e expõe os passos que começam nas pequenas barganhas, aparentemente inofensivas, contudo, potencialmente perigosas. Cabe a pergunta: os meios justificam os fins?
“O egoísmo tem a sua fonte no orgulho.
A exaltação da personalidade leva o homem a se considerar como acima dos outros, crendo-se com direitos superiores, e se fere com tudo o que, segundo ele, seja um golpe sobre os seus direitos.
A importância que, pelo orgulho, liga à sua pessoa, torna-o naturalmente egoísta.”
Explicação atualíssima na época da superexposição de personalidades, nos famosos da mídia e principalmente nos jovens nas redes sociais, que disputam números de seguidores, muitos com quadros fantasiosos.
Desculpa ainda frequente de muitas pessoas com comportamentos estranhos para serem vistos, por fora é claro.
Também é utilizada por outros como um caráter forte, ou gênio personalíssimo, daí o famoso “sou assim, problema de quem não gosta”. Neste último caso, parece que se trava um embate constante entre o gostar de si mesmo ou procurar a aprovação alheia para inflar o ego, e daí contar os pontos da torcida contra ou a favor. Se descontente tem o orgulho ferido.
Quanto perigo na construção de um ego equilibrado e bem sedimentado na personalidade de uma encarnação.
“Se quereis que vivam como irmãos sobre a Terra, não basta lhes dar lições de moral; é necessário destruir as causas do antagonismo; é necessário atacar o princípio do mal: o orgulho e o egoísmo.
Enquanto esses obstáculos subsistirem, verão seus esforços paralisados, não só por uma resistência de inércia, mas por uma força ativa que trabalhará, sem cessar, para destruir a sua obra, porque toda idéia grande, generosa e emancipadora, arruína as pretensões pessoais.”
Quando as pretensões são individualistas em detrimento dos demais, quando interessam apenas à grupos com finalidades egoísticas, os portadores dos nobres ideias sofrem com os ignorantes e pseudo poderosos do momento. Mas o tempo revela a verdade e não estamos desamparados. A misericórdia divina não tem preguiça e trabalha ativamente colaborando até com os que dela escarnecem.
Encerro por hoje, convidando a todos a refletirem sobre os nobres ideais trazidos pelo Mestre Jesus, de AMOR, compreensão, tolerância e caridade.
Muita PAZ para todos nós.
Francesca Freitas
02/08/2011