VIVÊNCIAS MEDIÚNICAS (54)

25/08/2011 05:49

Ainda analisando a história de seu Antônio, contada na semana passada, a Vivência Mediúnica analise o vício pelo trabalho.

No texto temos a elucidação que uma encarnação é muito preciosa para ser limitada por atividades incessantes e compulsivas. Há o tempo de trabalhar e o de descansar, sem culpas, num influxo entre o trabalho meramente físico, o mental e o espiritual.

Assim, devemos encarar coisas fora do trabalho mundano com verdadeiro trabalho encarnatório, o de administrar nossas tarefas para incluir o trabalho educativo pessoal em todas as dimensões, pois que este é o que amplia nossa consciência.

Que todos tenham um dia de muito crescimento.

 

 

VIVÊNCIAS MEDIÚNICAS (54)

 

 

Inspirada pela história do Sr. Antônio, operário cuja dedicação ao ofício o distanciou de outros aspectos, também essenciais, da vida humana, comentarei hoje acerca das atividades laborais e da nossa relação com as mesmas.

A expressão idiomática americana workaholic (de work:trabalho e alcoholic: alcoolista) é traduzida em “vicio no trabalho”, está muito em voga atualmente,  e cabe sobremaneira no caso descrito.

Esse “vício” já remonta a longas eras, e podemos dissociar a necessidade real do trabalho como labor humano, como atividade para o sustento e provimento pessoal e familiar, de um comportamento obsessivo relacionado à atividade laboral, que passa a ser a centro de toda a atenção do ser.

Motivações variadas ensejam ao exagero laboral, que, como todo desequilíbrio, leva à compulsão. Em todas elas, o desequilíbrio emocional se faz presente.

Dentre as causas mais atuais está a imensa demanda acerca do que é ser bem-sucedido, laborar para ter todo o tempo ocupado, disponibilizando toda a energia mental e física disponíveis no “fazer”. 

Em algumas pessoas há um temor associado à alta competitividade e ao desempenho, e em outras está ligado à avareza, a obsessão por dinheiro, vaidade e poder.

No âmago da questão há a necessidade pessoal de provar algo para si mesmo ou para os outros, e essa lacuna emocional ou afetiva permanece até ser observada como tal.

O indivíduo dedica-se e cobra de si mesmo e, muitas vezes, dos outros o mesmo comportamento. Percebemos nesses espíritos encarnados, dito deste modo para acentuar o desconhecimento ou esquecimento da sua essência espiritual, que não conseguem distanciar-se do trabalho material mesmo fora dele, e o lar e lazer passam a ser secundários.

 

O ser sofre pressionado por si mesmo, pois a lacuna desconhecida está aberta, mergulha na atividade laboral e sobrecarrega-se de afazeres. Muitos se sentem incompreendidos, ou pouco valorizados, o que é uma questão de projeção, e a solidão instala-se.

Inúmeras desculpas, tais como melhorar o padrão de vida para si mesmo ou para os filhos, abafam a culpa pela ausência na convivência familiar ou no círculo afetivo das amizades verdadeiras.

Com o decorrer do tempo, passa a conviver apenas com os colegas de trabalho, e as pressões do dia-a-dia somadas à auto cobrança embotam suas perspectivas mais sutis. Há uma queda na qualidade de vida, que fica postergada à uma possível aposentadoria, e descuido do corpo físico, principalmente do sono e da alimentação, favorecendo ao aparecimento de distúrbios orgânicos diversos.

Em muitos casos, como me pareceu ser o do Sr. Antônio, o vício inconsciente passa a parecer precioso porque o afasta das emoções, particularmente do seu afastamento da família, traumático e não processado. Parece temer apegar-se às pessoas, pois que um dia terá que afastar-se delas.

 

Quantos dizem: - há muito trabalho a fazer, não há tempo para pensar sobre isto ou aquilo!

Não há, pois, tempo para pensar em relações afetuosas, que podem ser desfeitas, em desapontamentos, e o trabalho mantém o sofrimento afastado da consciência, representando um mecanismo de fuga das emoções mais profundas.

Funciona como qualquer droga, inicialmente mascarando o sofrimento presente, mesmo não reconhecido, até quando doses cada vez maiores são tomadas para se alcançar resultados. Engodo o de pensar que há uma anestesia da alma, pois não se consegue mascarar indefinidamente a dor.

Ressalto que comento aqui sobre o balanço e o desequilíbrio, e lembro a todos do “caminho do meio” que Buda pregava.

Não se trata de fugir de responsabilidades materiais assumidas, mas de trazer a atenção e a consciência para outros focos, e de cultivar a amorosidade, principalmente consigo mesmo.

 

Uma encarnação é muito preciosa para ser limitada por atividades incessantes e compulsivas. Há o tempo de trabalhar e o de descansar, sem culpas, num influxo entre o trabalho meramente físico, o mental e o espiritual. Esse também é um trabalho encarnatório, o de administrar nossas tarefas para incluir o trabalho educativo pessoal em todas as dimensões, pois que este é o que amplia nossa consciência.

 

Dar importância aos sentimentos, escutá-los e admitir emoções desagradáveis e carências afetivas, faz parte do nosso crescimento como humanos. Admitindo problemas, podemos refletir sobre eles para posteriormente dissolver os conflitos possíveis.

Não estamos encarnados para viver sem emoções maiores, e sim para conviver conosco mesmo e com os demais espíritos que povoam nossa vida de modo mais harmonioso.

 

Seguem questões do Livro dos Espíritos, como sempre ponderadas e esclarecedoras, do Capítulo III, da Lei do Trabalho. Grifei algumas frases para reflexão.

 

674. A necessidade do trabalho é uma lei da Natureza?

- O trabalho é uma lei da Natureza e por isso mesmo é uma necessidade.

A civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque aumenta as suas necessidades e os seus prazeres.

 

675. Só devemos entender por trabalho as ocupações materiais?
- Não; o Espírito também trabalha, como o corpo. Toda ocupação útil é trabalho.

 

676. Por que o trabalho é imposto ao homem?

- É uma consequência da sua natureza corpórea. É uma expiação, e ao mesmo tempo um meio de aperfeiçoar a sua inteligência. Sem o trabalho, o homem permaneceria na infância intelectual; eis porque ele deve a sua alimentação, a sua segurança e o seu bem-estar ao seu trabalho e à sua atividade.

Ao de físico franzino, Deus concedeu a inteligência para o compensar; mas há sempre trabalho.

 

678. Nos mundos mais aperfeiçoados o homem é submetido à mesma necessidade de trabalho?

- A natureza do trabalho é relativa à natureza das necessidades; quanto menos necessidades materiais, menos material é o trabalho. Mas não julgueis, por isso, que o homem permanece inativo e inútil: a ociosidade seria um suplício, ao invés de ser um benefício.

 

679. O homem que possui bens suficientes para assegurar sua subsistência está liberto da lei do trabalho?

- Do trabalho material, talvez, mas não da obrigação de se tornar útil na proporção dos seus meios, de aperfeiçoar a sua inteligência ou a dos outros, o que é também um trabalho.

Se o homem a quem Deus concedeu bens suficientes para assegurar sua subsistência não está obrigado a comer o pão com o suor da fronte, a obrigação de ser útil a seus semelhantes é tanto maior para ele, quanto a parte que lhe coube por adiantamento lhe der maior lazer para fazer o bem.

 

682. Sendo o repouso uma necessidade após o trabalho, não é uma lei da natureza?

- Sem duvida o repouso serve para reparar as forças do corpo. E também necessário para deixar um pouco mais de liberdade à inteligência, que deve elevar-se acima da matéria.

 

Comentário de Kardec:

Não basta dizer ao homem que ele deve trabalhar, é necessário também que o que vive do seu trabalho encontre ocupação, e isso nem sempre acontece.

Há um elemento que não se ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica não passa de teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar caracteres, aquela que cria os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos.

      

Encerro desejando a todos Muita PAZ.

 

Francesca Freitas

23-08-2011

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