VIVÊNCIAS MEDIÚNICAS (74)

18/01/2012 07:34

 

A Vivência Mediúnica de hoje traz uma reflexão histórica das Cruzadas. Um reflexão que nos serve para a reflexão de quais guerras santas ainda são travadas dentro de nós.

Cabe a meditação sobre o início de cada “guerra” que enfrentamos em nossa vida cotidiana, a quem estávamos servindo, ao nosso egoísmo ou ao nosso desejo mais profundo de ser.

Enfim, reflitamos.

Um dia de muita paz para todos nós.

 

VIVÊNCIAS MEDIÚNICAS (74)

 

 

 

Prosseguimos as nossas vivências com observações acerca do contexto histórico-social das chamadas Cruzadas, “guerras santas”, iniciadas em meados do século XI, e que duraram cerca de 250 anos. A história do jovem e sua família despertou minha curiosidade sobre as motivações deste conflito atroz, que utilizou indevidamente o nome do nosso maravilhoso e amoroso Jesus.

Numa Europa dividida entre povos e culturas diversos, com grandes desigualdades sociais, ignorância e superstições, esperava-se que o ano 1000 fosse apocalíptico.

A ideia do milenaríssimo como marco de tragédias e grandes mudanças, “o fim dos tempos” ou “dia do juízo final”, repetiu-se no inconsciente coletivo no final do século XX, contudo esta expectativa ainda é mantida por muitos grupos para o fim do ano corrente. 

Mas, retornando àqueles tempos, já havia há poucos séculos um clima de tensão e divergência crescentes entre as Igrejas, a  Católica Romana e a Ortodoxa grega, após a divisão do Império Romano, que acabaram por culminar no Grande Cisma do Oriente, em Constantinopla, antiga Bizâncio e atual Istambul na Turquia em 1054. 

Cada uma dessas igrejas foi absorvendo as influencias culturais dos seus povos, o que é natural, até modificaram suas bases doutrinárias ao introduzir novos ritos e dogmas, disputando poderes temporais e divinos, afastando-se cada vez mais do ideal doutrinário do Evangelho de Jesus.

A igreja ortodoxa, pensando na sua conservação e purismo, pois convivia com culturas e religiões de tradições milenares, pouco modificou sua estrutura básica, o que não aconteceu com a católico-romana, que acabou por burocratizar-se em estruturas hierárquicas e complexas.

A distancia passou não somente a ser física, mas também teológica, além do embaralho com as inúmeras disputas internas pelo poder em cada uma delas. Brigava-se por títulos, terras e filosofias. Religiosos “pensadores” queriam impor sua interpretação das escrituras como sendo a última, única e verdadeira.

Lembremos de que o poder egóico não tolera a pluralidade, a diversidade respeitosa com o semelhante, mensagem fundamental do cristianismo pregado pelo Mestre Jesus.

Para os nobres e o clero havia sempre uma motivação para mais conquistas, e para uma população de pobres, em crescente aumento, as esperanças eram muito poucas, no nível de uma sobrevivência mais digna ou menos pesarosa.

Quando os dirigentes do império bizantino observaram que o fiel da balança papal pendia para o ocidente, reclamaram e certo grau de revolta instalou-se. Temendo uma ruptura completa, o papa resolveu auxilar o oriente enviando pessoas para defender a “Terra Santa” dos bárbaros invasores.

Manobra astuta para deslocar nobres em excesso ou caídos em desgraça, arrecadar dinheiro e manter sua autoridade.  Seria a supremacia física de Jeruzalem o coroamento da supremacia espiritual-teológica. 

Para ter soldados a compor um vasto exército e a um custo baixo, a igreja lançou mão de ideologias fantasiosas, desde a venda de indulgências e de supostas relíquias, até o perdão completo dos pecados.

Institucionalizada a barganha com o “divino”, o combatente morto em defesa da terra santa iria para o céu. Sim, o céu idealizado de paz eterna, beleza, juventude, anjos e jardins, sem fome ou doenças e trabalho imposto, o paraízo de contentamento e fartura.

Descontextualizada a frase ”meu reino não é deste mundo”, os miseráveis e os excluídos podiam ter neste paraízo o fim da expectativa de ascenção social, pois teriam uma excelente condição de vida no céu. Os guerreiros românticos e os mais belicosos teriam as aventuras para contar e o prêmio do céu para justificar seus atos. 

Assim começaram as muitas cruzadas, cinco ou nove, pois há divergência até entre os historiadores. Na primeira Cruzada juntaram uma multidão de pobres, com mulheres e crianças, despreparados e fanáticos, que, voluntariamente, seguiram a Pedro, o Eremita, para serem massacrados antes mesmo de chegarem à Jeruzalem. Esta foi a chamada Cruzada dos Pobres, seguida pela dos Nobres. Mas foi nesta primeira cruzada que o símbolo desta luta tornou-se conhecido, pois, sem dinheiro para fardamento costuravam uma cruz vermelha num tecido simples e branco, o que foi refinado poteriormente. 

Imagino como devem ter sido, milhares de pessoas chegando a uma cidade daquela época, com pouca ou nenhuma comida, doentes, famintos e com os ensandecidos dirigentes iniciais.  Conta-se até histórias tragicômicas de pessoas que, poucos dias depois da caminhada, achavam que a proxima cidade seria a terra santa.

A idéia de uma guerra santa era tão forte que muitos nobres ou donos de terras vendiam ou hipotecavam suas propriedades para armarem-se e ir à guerra, outros mandavam seus filhos empenhando todos os esforços disponíveis. 

Mesmo com muitas destidas na lamentável jornada, o ideal era reacendido com histórias de cavaleiros e eventos astronômicos ou fenômenos geológicos. Uma aurora boreal no ano fim do século XI foi interpretada como um sinal e bêncão dos céus, pois já havia uma expectativa anterior do “fim do mundo”.

Como a guerra não era vencida e as divergências entres as igrejas foram intensificadas, houve o grande cisma e até um saque, anos depois, à cidade de Constantinopla.

 

Perderam a guerra e muito mais que isso, o vínculo com o sagrado interior, com o Evangelho de Jesus. Possivelmente, muito poucos tiveram a clareza de observar-se como instrumento de uma manobra estratérgica-política de caráter muito diverso. E os que o fizeram, como o pai do querido jovem na vivência mediúnica passada, enfrentaram a fúria dos ignorantes e cruéis.

 

A intolerância religiosa e a perseguição aos infiéis, incluso mulçumanos e judeus, adentrou nos ideais da Europa romana, para recrudescer séculos depois na Inquisição.

Hoje ainda, vemos outros tipos de guerras “religiosas”, basta observar o que acontece com o jihad islâmico armado, não carregam cruzes nas costas e sim bombas atadas aos seus corpos. A maioria sacrifica-se para habitar no paraíso prometido.

 

Para não mais me delongar, retomo o início da nossa conversa para encerrar com uma pergunta para nossa reflexão:

- Afinal porque começou mesmo esta guerra?

 

 

Muita PAZ para todos nós.

Francesca Freitas

17/01/2012

 

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