VIVÊNCIAS MEDIÚNICAS (110)

26/09/2012 17:48

 

A Vivência Mediúnica de hoje vota a sua atenção para os nossos sentidos.

Como se dá a nossa percepção do mundo? Como se dá a nossa percepção do outro?

O relato de hoje, portanto, nos fala da atenção que dispensamos a tudo, condicionando cada pequena percepção nossa.

Portanto, estejam atentos, e boa leitura.

Muita paz amigos de caminhada.

 

 

VIVÊNCIAS MEDIÚNICAS (110)

 

  

 Como a “escuta” está muito além da simples audição, partilho hoje com vocês uma pequena viagem, com algumas paradas, trilhas paralelas e rodeios nesse sentido auditivo. Afinal, o homem sensorial, percebe o mundo físico, e, por que não, também parte do extra físico, pelos órgãos sensitivos. 

Um notável pesquisador Dr. V. Ramachandram costuma unir a neurociência com a consciência, sem excluir a espiritualidade, e me inspirou a falar um pouco dos sentidos que nos tornam humanos.

 

Iniciaremos pelas vias sensoriais como um todo até a audição em particular, já que a repercussão desse sentido é bem evidente na nossa linguagem.

Tudo começa com um receptor, uma célula ou prolongamento desta, que se especializa em captar um determinado sinal físico e/ou químico, e daí gerar outro tipo de sinal, eletroquímico. A tradução de um estímulo, a exemplo de uma simples mudança de temperatura até a concentração de oxigênio no sangue, tem o nome de transdução neurosensorial.

Assim que o receptor é ativado, o estímulo (sonoro, visual, químico e etc) viaja por prolongamentos dos nervos, como em fios elétricos até um ou mais destinos, estações que retransmitem para outras estações até sua chegada em áreas do cérebro.

 

Falando da via auditiva, sentido esta trabalhado evolutivamente há milhões de anos nos animais, uma orelha nos é dada, como uma concha que converge e magnifica as ondas sonoras para um determinado ponto, a membrana timpânica, que, como um leve tecido, move-se ao deslocamento do ar. Com isso, movimenta ossículos que chegam até a cóclea, local de ativação dos receptores especiais que traduzem em sons essas vibrações, com tons, intensidades e nuances muito amplas.

Realmente é maravilhoso pensar em todas as variações, quase infinitas combinações, de sons que percebemos. Possibilitam-nos a perceber a natureza, desde o som de gotas de chuva a cachoeiras, aos animais, num gorjeio dos pássaros ou no latido do cachorro, até a interagir uns com os outros nas línguas mais diversas,  às músicas e etc.

 

O som percorre uma via relativamente complexa para chegar a uma percepção completa.

No cérebro, com zonas especializadas em tal ou qual sensibilidade, ocorre uma primeira parada nas chamadas áreas primárias. Mas este é apenas uma primeira recepção central, para que a informação seja associada ou redistribuída a outras que temos na memória. Essas áreas de associação são chamadas de secundárias. Ouço “algo” e esse algo vai ao primeiro local, somente reconheço esse algo como uma voz melodiosa ou uma queixa num segundo local.

Caso o algo reconhecido me ponha a elucubrar, essa informação será distribuída para muitos locais, chamados de terciários, onde pensamentos e processos mais complexos acontecem. A exemplo de lembrar trechos de uma música e “internamente” cantá-la, ouvi-la e associar essa lembrança a outras circunstancias. Estava aonde e com quem quando a escutei pela primeira vez?

 

Há alguns anos atrás um colega atendeu um paciente com problemas de linguagem após um “derrame”, nome popular para um Acidente Vascular Cerebral, e o acompanhante auxiliou ao diagnóstico dizendo: “Ele está sem falar coisa-com-coisa, sai atrapalhado. Sei que ele ouve mas não divulga, fica irritado”.  

Muito interessante, pois o problema está na passagem ou divulgação de uma área para a outra. O indivíduo ouve uma palavra, informação auditiva, mas não compreende ou associa esta informação, portanto o reconhecimento, como o próprio nome diz, passa pelo repertório de memórias mais amplas.

Mas a “escuta” integral não passa apenas pela audição.

Como seres multissensoriais, percebemos, ao mesmo tempo, as informações do ambiente e de nosso próprio corpo a todo instante, de modo simultâneo. Inúmeras vias de entrada informacional convergem para algumas áreas do cérebro.

Rotineiramente, associamos sons, palavras e textos a imagens. Se ouço muito a palavra sol, solar e brilho, algum lugar da mente traz uma imagem solar, nem que fugaz. Além disso, fazemos um juízo de valor acerca do que percebemos.

No discurso presencial há toda uma percepção visual do sujeito que fala, da sua expressão facial e gestual. Por isso podemos perceber uma mentira, mais ou menos evidente, no sujeito que dissocia a expressão da fala com a corporal.  Há todo um cortejo se sutilezas na mímica facial que nos permitem distinguir um choro de sofrimento moral, de uma dor física, da sedução vitimizante ou de uma crise de riso que termina no choro, o que é bem claro ao observarmos o choro de uma criança de 5, 6 anos de idade.

 

Uma escuta mais profunda requer a atenção, ou seja, uma parte da atividade sensorial “hiberna” para que outras permaneçam bem ativas, ou seja, colocamos um foco que filtra as entradas sensitivas. Por isso algumas pessoas fecham os olhos quando ouvem uma preleção, enquanto que outros preferem associar a audição às imagens.

 

Retornando à criança, geralmente é ela a primeira a indicar aos pais que eles não estão prestando a devida atenção ao que ela diz, além de perceberem também quando o nosso olhar é de quem quer ver realmente ou apenas enxergar.

É a criança, como uma pequena esponja que se “encontra” com o mundo e percebe-se nele, que aprende e apreende o que a cerca, principalmente pelos órgãos dos sentidos em pleno desenvolvimento, a primeira a sofrer com a ignorância de uma desabilidade nos seus órgãos sensoriais. Seu “encontro” com o mundo, os outros e consigo mesma, terá filtros limitantes adicionais, seu esforço perceptivo será muito maior. Não vou tecer considerações sobre as causas pretéritas da uma desabilidade, mas observo o que podemos fazer ao nos depararmos com um ser em nova oportunidade de aprendizado e crescimento. A encarnação é valiosa ferramenta e deveria ser bem aproveitada.

Quando não direcionada, e após tentativas infrutíferas, a criança cansa, e fecha-se, por vezes, com comportamentos agressivos e inadequados, o que possivelmente tenha ocorrido com o Amigo deficiente auditivo, cuja breve história foi descrita na Vivência Mediúnica passada.

Nas famílias, o acolhimento amoroso já é, em si mesmo, terapêutico, a despeito de um diagnóstico precoce, pois quanto mais cedo for percebida uma limitação, mais fácil será uma reabilitação, parcial ou completa.

 

“Ninguém transforma ninguém e ninguém se transforma sozinho.

Nós nos transformamos no Encontro.”    Roberto Crema

 

 

Muita PAZ para todos nós.

Francesca Freitas

26-09-2012

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