VIVÊNCIAS MEDIÚNICAS (127)

30/04/2013 07:24

 

A vivência mediúnica de hoje estuda a gratidão e o seu reverso, a ingratidão. Assim trabalhamos as nuances entre uma doação generosa e outra condicionada.

O tema toma relevância no momento em que é comum indicarmos que somos vítimas da ingratidão de terceiros, não percebendo que tudo é fruto das nossas expectativas depositas.

Esperamos que todos apreciem o texto.

Paz na alma.

 

 

VIVÊNCIAS MEDIÚNICAS (127)

  

Hoje comento acerca da gratidão, do seu reverso, a ingratidão e das nuances entre uma doação generosa e outra condicionada.

Uma queixa frequente por parte dos espíritos nos atendimentos mediúnicos é a de serem alvo da ingratidão alheia. Frases comuns tais como: eu dei o melhor de mim para ele ou ela, eu passei a minha vida em função deles, eu trabalhei a vida toda para eles e etc., não são exclusivas de desencarnados, aliás relativamente comuns entre os encarnados.

Os queixosos e desiludidos vitimizam-se com suas expectativas não realizadas. Nada mais nada menos, que sejam recompensados com atos materiais ou afetivos pelos seus feitos, supostamente generosos.

Esta situação difere em muito de um acordo previamente feito, tácito ou não, de um contrato seja verbal ou por escrito, contendo condições, partilhas e remunerações. Os direitos e deveres ficam claros numa negociação que envolve bens materiais, mas nas relações humanas algumas cláusulas permanecem dissimuladas. Conversar, escutar e meditar sobre como estamos e o que esperamos de determinada pessoa ou relação não é um feito habitual.

A suposição de que o empenho emocional e afetivo dedicado ao outro terá uma recompensa, como nas relações familiares ou até mesmo em relações da mais simples amizade, gera expectativas que certamente serão descumpridas. Quando uma reciprocidade implícita se estabelece as repercussões serão diversas.

Algumas vezes, quem se diz vítima da ingratidão é extremamente exigente e controlador. Já presenciei desencarnados perseguindo familiares devido a sentirem-se vítimas da ingratidão dos mesmos. E acham que têm, no direito de cobrar, praticamente um dever.

Nos casos do comercio do imaterial a economia é confusa, pois envolve sentimentos, particularismos, egos, emoções e complexos.

Seria mais fácil reconhecer de modo explícito a venda ou o depósito do afeto e da atenção, por moeda semelhante a ser descontada num futuro breve ou longínquo.

Já observei pais atazanando a vida dos filhos, cônjuges desentendendo-se e amigos brigando porque “x” quilos de atenção e cuidado não foram devolvidos e, ainda, no momento que achavam adequado. Essa remuneração do bem querer parece que não rende juros ou dividendos no banco.

Quem pensa assim, utiliza-se desta filosofia econômica também com o Divino. O Santo é cobrado, o Mentor e o Anjo da Guarda ficam em dívida com o “bom” homem. Todavia, quem é realmente generoso não precisa espalhar aos ventos sua bondade, pois dá sem condição, portanto é amoroso, grato e misericordioso.

Não justifico aqui a ingratidão, filha do egoísmo, nas relações humanas e muito menos nas familiares, pois as relações parentais constituem a nossa primeira escola.

Não há ser mais generoso que o Pai Criador, que nos deu uma Alma eterna e um Universo infinito onde habitar, e nada nos cobra. São as nossas ações que ressoam, e o Universo nos devolve o que plantamos, com a vantagem da Sua Misericórdia à nossa disposição sincera.

Segue um trecho de “O Sermão da Montanha”, de Huberto Rohden, com suas lúcidas reflexões acerca das palavras-lições do Mestre Jesus, grifos nossos.  

 

“Bem-Aventurados os Misericordiosos”

Misericordioso é aquele que tem coração para os míseros; aquele que compreende e ama os fracos, os ignorantes, os doentes, todos os necessitados de corpo, mente e alma, e procura aliviar-lhes os sofrimentos.

Verdade é que o Cristianismo não é, simplesmente, a religião da ética ou caridade; ele é, essencialmente, místico, na sua infinita verticalidade divina mas, também, é certo que ninguém chega a essas alturas místicas da direta experiência de Deus se não se exaurir em caridades éticas para com seus semelhantes.

O homem meramente profano é ruidoso. O homem místico é silenciosamente solitário.

Mas o homem plenamente crístico é dinamicamente solidário. Essa solidariedade dinâmica do homem cristificado não exclui, mas inclui a solidão espiritual do místico.

O homem crístico é, por dentro, unicamente de Deus, e, por fora, de todas as criaturas de Deus.

Os misericordiosos receberão misericórdia, não da parte dos homens aos quais mostraram misericórdia, mas por parte de Deus, em cujo divino amor está radicada a verdadeira caridade humana e de cujo seio brota sem cessar.

Quanto mais o homem dá, na horizontal, tanto mais recebe, na vertical.

Existe uma lei cósmica que produz infalivelmente o enriquecimento do homem que em si mantém, permanentemente, uma atitude doadora, que está sempre disposto a dar do que tem e a dar o que é, isto é, ajudar a seus semelhantes com os objetos que possui e com o amor do próprio sujeito que ele é.

Não basta “fazer o bem” (dar objetos) — é necessário também “ser bom” (dar o sujeito). O Cristianismo não é uma religião meramente ética, que ensine a fazer o bem — mas é sobretudo, uma religião mística, que exige que o homem seja bom.

Fazer o bem é o cumprimento do segundo mandamento, “amarás o teu próximo como a ti mesmo”; ser bom é a atitude do primeiro e maior de todos os mandamentos, “amarás o senhor teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente e com todas as tuas forças”.

Pode alguém fazer o bem sem ser bom, porque esse “bem” é apenas um objeto — mas ninguém pode ser bom sem fazer o bem, porque esse “ser bom” é o próprio sujeito, que, como o próprio vocábulo diz, “subjaz” (jaz por debaixo) como causa a todos os efeitos, que “objazem” (jazem defronte ou de fora).

Não são os efeitos que produzem a causa, mas é a causa que produz os efeitos; não são os objetos, o “fazer bem”, que produzem o sujeito, o “ser bom”, mas sim vice-versa, o “ser bom” produz o “fazer bem”.

A mística produz a ética. Se a mística de alguém não produz a ética, é porque não é real, mas apenas uma pseudomística.

Somente a ética post-mística, que brotou das fecundas profundezas da experiência de Deus, é que é fácil e deleitosa, e tem sólida garantia de perpetuidade. Esses homens essencialmente perfeitos pelo imediato contato com Deus são, também, existencialmente bons pela solidariedade com todas as creaturas de Deus.

Quem viveu misticamente o Deus do mundo, vive eticamente com todo o mundo de Deus, porqüanto a profunda vertical da mística produz necessariamente a vasta horizontal da ética — é esta a grandiosa matemática cósmica da Verdade Libertadora.

“Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará.”

Esses misericordiosos receberão misericórdia, não dos homens, mas de Deus.

A misericórdia que eles fazem a seus semelhantes não é causa, mas condição para que recebam misericórdia de Deus, porque ninguém pode merecer causalmente uma dádiva divina; tudo que é espiritual e divino é essencialmente gratuito, é de graça, porque é graça; é, todavia, necessário que o homem crie dentro de si o clima propício para que essa dádiva gratuita lhe possa ser concedida; esse clima propício, ou essa receptividade, é que é a condição, que em hipótese alguma é causa.

Quem espera recompensa, pagamento, pelos benefícios que presta à humanidade é egoísta, mercenário, ainda que essa recompensa consista apenas no desejo de reconhecimento ou gratidão da parte de seus beneficiados. Esse desejo não deixa de ser egoísta e mercenário e tolhe ao homem a “gloriosa liberdade dos filhos de Deus”, tornando-o escravo e prisioneiro de uma prisão muito perigosa, porque sumamente sutil e, aparentemente, justificada, como é o desejo de gratidão.

O beneficiado, é certo, tem a obrigação de ser grato, mas o benfeitor não tem o direito de esperar gratidão.

O homem crístico está liberto de qualquer espírito mercenário; trabalha inteiramente de graça, nem espera resultado algum externo de seus trabalhos.

Trabalha por amor à sua grande missão, pois sabe que é embaixador plenipotenciário de Deus aqui na terra e em outros mundos. E é por isso, que ele trabalha com o máximo de perfeição e alegria em tudo, tanto nas coisas grandes como nas coisas pequenas.

Nunca trabalha para ter público que o aplauda. Por isso, não o exaltam louvores, nem o deprimem censuras; é indiferente a vivas e a vaias, a aplausos e a apupos, a benquerenças e malquerenças, porque se libertou definitivamente de todas as escravidões do homem profano, do “homem velho”, e se revestiu da leve e luminosa vestimenta do “homem novo” liberto pela Verdade.

Esse homem vive permanentemente na atmosfera serena e sorridente da “gloriosa liberdade dos filhos de Deus”, cujo diploma crístico vem resumido nas seguintes palavras: “Quando tiverdes feito tudo o que devíeis fazer, dizei: “Somos servos inúteis, cumprimos apenas a nossa obrigação, nenhuma recompensa merecemos por isto”... São estes os misericordiosos que alcançarão misericórdia — esses bem aventurados...

 

Muita Paz para todos nós,

Francesca Freitas

30-04-2013

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